Para não perder a magia

Por Marcos Araújo

Eu sei que o Natal é uma data que, para os adultos, há muito tempo, já perdeu o encanto. É uma época do ano que é sinônimo de shopping lotado, trânsito agarrado, correria para fechar as pendências que foram ficando para trás nos meses anteriores e listas de compras enormes que, geralmente, não batem com o tamanho do orçamento. Definitivamente, não há encantamento que resista a esse choque de realidade.

Minha filha, de 10 anos, me fez pensar na maneira como encaramos o Natal. Nas últimas semanas, a cada dia, surge a pergunta: “Faltam quantos dias para o Natal?”. A menina não se aguenta de tanta ansiedade para a chegada desse dia, que, para ela, é o mais demorado do ano. Assim também era comigo na época de criança. A espera pela chegada do Natal durava uma eternidade, porque a nossa noção de tempo era outra. Ele não era um inimigo, como muitas vezes o enxergamos no mundo adulto, com tantos prazos. Pelo contrário, o tempo era como se fosse um oceano de possibilidades de tudo o que estava por vir. Sonhos a serem alcançados ao longo da vida ou no final do ano. Naquela época, diferente de agora, dava para esperar.

Recordo-me que o ano era marcado por dois períodos: as férias de julho, com tempo para brincar na rua, e o mês de dezembro, que pontuava o fim das aulas, o fim de uma série escolar, a compensação de ter se saído bem nas provas ao longo dos bimestres e de ter sido aprovado. Dezembro era o mês quando a gente tinha prêmio pelo bom comportamento e tudo isso era coroado com o Natal, que arrematava o calendário com chave de ouro.

O Natal era mágico, digo isso sem o medo de ser clichê, porque, no dia 24, era a data de passar o dia inteiro na casa da avó, de rever todos os tios, de brincar com os primos (brincávamos muito de corre cotia), de ter música tocando alto, de ver minha mãe e tias, junto com minha avó, preparando o almoço e o que mais seria servido à noite na hora de ceia. A casa ficava perfumada com os aromas que vinham da cozinha, local que eu adorava rondar para conseguir a primeira prova de sabor de alguma delícia que ainda estava no fogão.

Era dia de tomar banho mais tarde, de vestir roupa nova e de ficar pronto esperando a hora de desembrulhar o presente. Dentro da minha concepção infantil de mundo, tudo isso era motivo para que o Natal fosse mesmo mágico e o dia mais esperado do ano.

Infelizmente, hoje, dezembro se tornou um mês tão atribulado, que os 24 dias que antecedem o Natal parecem um único e longo dia extenuante, consumista e desprovido de afetos. A gente só se dá conta do Natal quase em cima da hora da ceia, isso se não houver atrasos.

Tenho certeza de que é muito difícil não ser atropelado por esse rolo compressor que se transforma o fim de ano na vida adulta. Mas, para que não sejamos tragados pela rotina da correria, talvez seja necessário dar voz à criança que ainda reside dentro de nós. Pode não ser fácil encontrá-la sufocada em meio a tantas demandas. No meu caso, minha filha sempre me ajuda. É preciso nos darmos essa chance, para que a magia do Natal aconteça!

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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