Assaltos e furtos causam insegurança na região do Poço Rico
Moradores estão preocupados com a utilização de imóveis desocupados por criminosos; polícia registrou diversos casos, mas afirma que incidência diminuiu em comparação com o ano passado
Casos de arrombamentos a residências e a estabelecimentos comerciais, furtos e assaltos a pedestres têm trazido insegurança para moradores da região do Bairro Poço Rico, na Zona Sudeste de Juiz de Fora. A Tribuna recebeu solicitações de residentes da comunidade, que alegaram haver um aumento de pessoas desconhecidas nas ruas e em imóveis desocupados. Segundos eles, em muitas ocasiões, suspeitos de praticarem esses crimes se misturam às pessoas em situação de rua com a finalidade de não chamar a atenção e continuar cometendo atos criminosos, o que tem preocupado os moradores.
Em pesquisa realizada junto ao sistema de Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), a Tribuna localizou, nos dois últimos meses, registros que corroboram as denúncias. No início de outubro, uma gerente comercial, 48 anos, moradora da Rua Pernambuco, acionou a Polícia Militar depois que o carro dela, que estava na garagem de seu apartamento, foi arrombado. Ela só se deu conta do crime no dia seguinte, quando saiu para trabalhar e percebeu o sumiço de uma bolsa com roupas, dos documentos do veículo e de dois carregadores de celular.
Também nos primeiros dias de outubro, uma idosa, de 60 anos, registrou que ao desembarcar de um ônibus, na Rua da Bahia, falando ao celular, um homem aproximou-se dela e disse que ela tinha que entregar o aparelho em tom de ameaça. Com medo, a vítima entregou o telefone. O homem saiu correndo e entrou na linha férrea para continuar sua fuga.
Já no dia 24 daquele mês, também na Rua da Bahia, um aposentado de 75 anos denunciou à Polícia Militar que havia acabado de estacionar o seu veículo na rua e, quando começou a fechar a porta do carro, foi surpreendido por dois homens. Um deles estava armado e apontou um revólver, ameaçando-o. A dupla obrigou a vítima a entregar as chaves do veículo. Eles entraram no carro e fugiram em direção à Avenida Brasil.
Alguns dias depois, em 30 de outubro, um empresário, 47, teve seu escritório invadido na Rua Osório de Almeida. A vítima relatou à PM que, ao chegar para trabalhar, às 6h30, deparou-se com o interior do imóvel todo revirado. Foram furtados do imóvel uma bolsa e R$ 120. O empresário observou que um vidro do basculante do banheiro havia sido retirado, servindo de acesso para quem praticou o crime.
Roubos em setembro
Em setembro, uma mulher, 36, foi assaltada enquanto caminhava pela Avenida Brasil. Ela contou que foi abordada por um homem que estava de bicicleta. Ele empurrou a vítima no chão e tentou puxar a bolsa dela à força. Como a mulher começou a gritar, o criminoso fugiu. A vítima sofreu uma lesão na mão direita devido à queda. A PM foi acionada, e o suspeito de cometer a tentativa de crime foi localizado em uma trilha de acesso à linha férrea, juntamente com a bicicleta usada para fugir. Conforme a PM, o homem confirmou o que foi alegado pela vítima e foi preso em flagrante.
Dias depois, outro caso parecido foi registrado contra uma mulher, 45, na Rua Paraná. Ela contou que chegava para trabalhar, por volta das 6h, quando um homem em uma bicicleta saiu da Rua Alagoas e, ao aproximar-se dela, tirou da bermuda uma arma de fogo e anunciou o roubo, obrigando a vítima a entregar o celular dela. Ele ainda disse que se a mulher não passasse o aparelho iria “meter bala.” Nesse caso, apesar do rastreamento policial, nenhum suspeito foi encontrado.
Moradores e comerciantes pedem ação para inibir crimes
A Tribuna esteve no Poço Rico e conversou com residentes do bairro, mas nenhum deles quis ser identificado por medo se serem reconhecidos e se tornarem vítimas. Um deles é um vigia que trabalha no período da noite na Rua Osório de Almeida. Na visão dele, a situação está complicada para moradores, para quem trabalha no bairro e também para os comerciantes. “Acreditamos que os imóveis abandonados estão servindo para a ocupação de pessoas suspeitas, que se misturam aos moradores de rua. Esses casos estão mais frequentes”, afirmou, completando: “Geralmente, são moradores de rua que não têm onde morar e que se abrigam nesses imóveis desocupados, mas entre eles estão pessoas que se aproveitam para cometer furtos no bairro. Isso causa insegurança para a comunidade. Inclusive, recentemente houve um roubo contra uma loteria”, contou.
Um comerciante que trabalha próximo a um desses imóveis abandonados disse ver situações que aumentam a suspeita da utilização desses locais. “Aqui ao lado do meu estabelecimento entraram pela casa abandonada, onde as janelas estão abertas. De lá, conseguiram acessar os fundos do meu imóvel para tentar furtar a casa da vizinha que fica na parte de cima. Eles não conseguiram, porque um dos vizinhos viu um dos suspeitos e acionou o alarme, fazendo o ladrão correr. Estamos vivendo na total insegurança por aqui”, disse. Segundo ele, no período da noite, depois das 19h, a situação piora. “A gente vê pessoas em atitude suspeitas transitando, e não são as pessoas que estão usando esses imóveis como moradia, são aquelas que fazem os furtos e muitas vezes se juntam aos moradores de rua para despistar.”
Viaduto teria impactado segurança
Uma moradora idosa, que mora na Rua Osório de Almeida, avaliou que os casos tornaram-se mais frequentes depois da inauguração do viaduto Engenheiro Renato José Abramo. “No período da noite, temos medo de transitar pela rua, porque retiraram o ponto de ônibus que fica perto da minha casa e, assim, preciso descer perto do cemitério e fazer todo o percurso a pé. Tenho medo de ser assaltada. Os moradores desse trecho estão com muito medo. A movimentação de pessoas estranhas dura o dia inteiro. Isso deixa a gente vulnerável, com medo de sair de casa.”
As mudanças causadas pela instalação do equipamento viário também foram citadas por um comerciante à Tribuna. “Algumas casas que foram desapropriadas para a construção do novo viaduto estão abandonadas e estão sendo invadidas. Na minha opinião, é preciso uma ação do Poder Público para retirar esses invasores, porque no meio deles tem gente que se envolve com coisas erradas”, afirmou outro comerciante.
No posto de combustível, também na Rua Osório de Almeida, os frentistas disseram que o medo é constante, porque, na visão deles, depois da inauguração do viaduto, aumentou o número de pessoas estranhas circulando pelo local. Segundo eles, para quem trabalha à noite é pior, porque a rua fica deserta. “O imóvel ao lado do posto está abandonado e serve de ponto de ocupação dessas pessoas.”
Flagrante
Quando a Tribuna estava no bairro fazendo a apuração desta reportagem, na tarde do dia 5 de novembro, a Guarda Municipal recebeu denúncia de movimentação suspeita no galpão da Secretaria de Obras, que é o imóvel desocupado localizado ao lado do posto de combustível apontado na fala do frentista. Segundo o órgão, uma equipe compareceu ao local e, em varredura, encontrou dois homens dentro das instalações. Os invasores foram liberados após a abordagem da Guarda Municipal.
PM diz que irá aprimorar segurança e que bairro teve redução de crimes
A Tribuna levou os questionamentos apontados pelos moradores do Poço Rico à Polícia Militar, que informou que irá se reunir com a liderança comunitária do bairro a fim de registrar e identificar os problemas que possam ajudar a instituição a aprimorar a segurança pública daquele local. A PM também ressaltou que o bairro é alvo de frequentes ações preventivas, onde a presença policial se dá através de permanência e de passagens de equipes policiais em locais estrategicamente definidos, através de análises estatísticas que são realizadas pelos policiais militares que desenvolvem a segurança pública naquele setor. “Não obstante o empenho diário, também são realizadas ações conjuntas entre a Polícia Militar e órgãos da Prefeitura de Juiz de Fora, que possuem a competência de fiscalizar os loteamentos e imóveis desocupados, além de atuar adequadamente em relação às pessoas em situação de rua”, destacou a corporação.
Ainda de acordo com a PM, o Poço Rico vive um momento de redução dos índices criminais, com 379 operações policiais registradas no bairro até novembro de 2021. “E em um comparativo entre os meses de janeiro a novembro de 2020, considerando o mesmo período em 2021, observa-se uma diminuição de 55,5% das infrações penais ocorridas no local”, informou a corporação, reafirmando que tem o compromisso de promover um trabalho sério e pautado na legalidade.
Rondas preventivas
Também questionada pela Tribuna, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que a Guarda Municipal realiza rondas preventivas periódicas em prédios públicos da Administração, incluindo o galpão da Secretaria de Obras, no Bairro Poço Rico, onde, na tarde do dia 5 de novembro, a Guarda Municipal recebeu denúncia de movimentação suspeita na Rua Osório de Almeida.
“Uma equipe compareceu ao local e, em varredura, encontrou dois homens dentro das instalações. Os invasores foram liberados após a abordagem da GM. Em função de atendimentos já realizados no local, a Guarda já fez contato com os setores responsáveis para providências quanto à segurança do imóvel. No mesmo dia 5, as equipes da PJF fecharam o portão do galpão da Secretaria de Obras.”
A PJF também que ressaltou que em caso de movimentação suspeita, a população pode denunciar à Guarda Municipal pelo telefone 153.