O século alvinegro

Quando sete jovens se reuniram no longínquo 26 de maio de 1912, certamente não tinham a intenção de criar uma grande instituição, que levasse seu próprio nome e o de Juiz de Fora país afora. Talvez nem passasse pelas suas cabeças que aquilo que faziam ali ficaria marcado na história do esporte da cidade cem anos depois. Naquele momento, o mais provável é que eles só soubessem de uma coisa: queriam fundar um time para jogar futebol.
Assim, Antônio Maria Júnior tomou a iniciativa de reunir um grupo de amigos e iniciou a trajetória do Tupi Foot Ball Club, que hoje completa 100 anos. Nesta reunião, foi definido que o primeiro presidente seria José André Bastos, e o vice, Eduardo Viviani. A Antônio Maria coube o cargo de primeiro secretário, e a João Batista George, o de segundo. A tesouraria ficou a cargo de Othelo Rossi, a procuradoria com José Vaccarini, e Adhemar Oliveira era o fiscal.
Os cargos oficiais estavam estabelecidos, mas o grupo queria mesmo era jogar futebol. Uma das versões, dada pelo mais antigo integrante da diretoria atual, o ex-técnico e hoje presidente do conselho deliberativo do Carijó, Geraldo Magela Tavares, 85 anos, dá conta de que os fundadores do Tupi desenvolveram suas habilidades e forjaram sua amizade nas linhas do rival Tupynambás. Porém, sem conseguir atuar como titulares do Baeta, resolveram fundar seu próprio time. Enfim, a velha história de rapazes com fome de bola querendo jogar.
Rivalidade
Da primeira reunião ao primeiro jogo passaram-se pouco mais de dois meses, e o adversário não poderia ser outro: o arquirrival Tupynambás. Na verdade, o confronto, que acabou no empate por 1 a 1, no campo da Alfândega (na Avenida Sete de Setembro), deu início a uma série de confrontos. Dias depois, o Tupi perderia por 1 a 0 e, na revanche pedida pelos carijós, golearia o Baeta por 4 a 0. Assim eram experimentados os primeiros jogadores a vestirem o manto Alvinegro e, ao mesmo tempo, nascia a primeira grande rivalidade dos gramados de Juiz de Fora.
O título citadino inaugural chegou em 1921, logo depois da organização do time de futebol como associação esportiva civil. E, após essa conquista, outros 22 canecos da competição organizada pela Liga de Desportos de Juiz de Fora envolvendo clubes de toda a região foram parar embaixo das asas do Galo Carijó.
Ingressando pela primeira vez no Campeonato Mineiro de 1933, o Tupi passou a se mostrar para todo o estado. Mas foi na década de 1960, mais precisamente em 1966, que o Alvinegro criou sua primeira história de fama nacional. O Fantasma do Mineirão assombrou os grandes de Belo Horizonte e chegou a atormentar até mesmo a Seleção Brasileira.
Além dos gramados
Apesar de ter nascido para o futebol e sempre ter lutado contra dificuldades de todos os tipos para manter-se na ativa, o Carijó também abriu espaço para outras modalidades. Vôlei, basquete, futsal, handebol, natação, bocha, malha e até mesmo atletismo e ciclismo tiveram equipes oficiais vestindo as cores do clube ao longo dos anos.
Nos gramados, depois do sucesso do Fantasma, os anos 1970 não trouxeram muitas alegrias, e testemunharam, inclusive, o fechamento do departamento de futebol profissional do clube, em 1973. Dois anos depois, o Tupi estava de volta e, na década seguinte, em 1985, conquistou seu primeiro título do interior do Campeonato Mineiro, fato que se repetiria em 2003, 2008 e em 2012.
Vulto nacional
No cenário nacional, a trajetória do Carijó começou com a participação na Terceira Divisão de 1988, competição na qual, em 1997, em uma noite chuvosa no Estádio Municipal, trouxe a maior decepção dos 100 anos de história do Tupi, na derrota por 1 a 0 para o Sampaio Corrêa, quando uma vitória simples levaria o Galo à Série B.
Oscilando entre a Primeira e a Segunda Divisão do Estadual, o Tupi seguiu o curso de sua história no fim dos anos de 1990 e o início do novo século. Estreou na Copa do Brasil em 2004, chegando à segunda fase, mas acabou eliminado pelo Flamengo. Naquele mesmo ano, foi rebaixado pela última vez no Campeonato Mineiro. O Alvinegro de Santa Terezinha voltaria à elite dois anos depois para não mais deixá-la. A corrente ascendente do Carijó seguiu em 2008, com a conquista da Taça Minas Gerais sobre o América-MG.
Em 2011, veio o maior título do clube fundado por aquele grupo de amigos famintos por futebol. Diante de um estádio lotado, contra o tradicional Santa Cruz, em Recife, o Tupi se mostrou grande, venceu a partida por 2 a 0, conquistou o Mundão do Arruda e ficou com a taça do Campeonato Brasileiro da Série D.
Atual campeão mineiro do interior, o Carijó chega ao centenário celebrando seu melhor momento em todos os tempos. E até mesmo a história parece se repetir. Aguardando uma definição sobre a estreia na Série C do Campeonato Brasileiro, os rapazes do Tupi só querem um única coisa: jogar futebol.