Nova espécie de planta recebe nome de professora da UFJF
Fátima Salimena, uma das principais pesquisadoras brasileiras da planta da família Verbenaceae, é homenageada
Uma espécie de planta rara e exclusiva do cerrado, que se encontra nos campos na divisa dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Tocantins, foi descoberta por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A espécie do gênero Stachytarpheta, pertencente à família Verbenaceae, recebeu o nome de Stachytarpheta salimenae, em homenagem à professora aposentada do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF, Fátima Salimena. Além dos poucos registros de coleta, a nova espécie corre o risco de extinção.
O artigo publicado em outubro na edição virtual da revista científica Phytotaxa, apresenta a Stachytarpheta salimenae como uma espécie inédita, e isso só foi possível após inúmeros estudos que vinham sendo feitos desde a primeira vez em que foi coletada no ano de 1840. Um dos autores da pesquisa é o doutorando da UFRJ/Museu Nacional, Pedro Cardoso, que fez sua graduação em Ciências Biológicas e mestrado no programa de pós-graduação em Ecologia da UFJF.
A partir do estudo de coleções de herbários, comparações morfológicas com as espécies já descritas e estudos de campo para o gênero, Pedro reconheceu essa planta de corola preta como uma nova espécie. De acordo com o pesquisador, a Stachytarpheta salimenae é o único gênero da família Verbenaceae que possui flores com essa coloração atropurpurea a preta. Até o momento, foram encontradas apenas dez espécies que apresentam essa característica.
Um ciclo que se renova
“Para todo orientador, é uma felicidade saber que a lição foi bem passada e que outros se agregaram à essa luta interminável que coloca a nossa própria espécie em risco”, afirma Fátima, que atualmente é professora convidada do Departamento de Botânica da UFJF e da pós-graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza.
Pedro conheceu Fatinha, como é carinhosamente chamada pelos alunos e colegas de trabalho, em 2014, quando ele cursava a disciplina de Botânica e foi convidado pela professora a seguir com os estudos sobre a família Verbenaceae no Brasil. Este foi o ponto de partida que o levou a se interessar por este grupo de plantas e, mais tarde, se tornar especialista na área.
Segundo a pesquisadora, receber essa homenagem é uma forma de representar a luta incansável contra o tempo e a destruição dos ambientes naturais que leva à extinção de espécies e a perda da maior riqueza do país: a sua biodiversidade. “Além de uma política ambiental perversa no país, há um total desrespeito social às comunidades indígenas e quilombolas, perdendo-se não só a biodiversidade, mas as culturas, a sociobiodiversidade”, afirma.
Por mais de 30 anos, a professora dedicou sua carreira a pesquisar sobre a família Verbenaceae, sendo uma das principais especialistas do tema no Brasil, e transmitiu todo conhecimento para Pedro. “Batizar uma espécie pertencente ao grupo que ela dedicou toda a sua carreira é uma forma de agradecer, em forma de uma simples homenagem, por todo seu trabalho prestado como pesquisadora, bem como pela confiança depositada em mim para estudar Verbenaceae”, diz o pesquisador.
Sobre a importância de ter um nome
O caminho até descobrir uma espécie que não foi descrita demanda muito estudo e também um amplo conhecimento sobre o grupo a que a planta pertence. O nome científico dado a essa planta caracteriza sua identidade e faz parte de uma busca incansável para conhecer a natureza e documentar todas as formas de vida, pontua Pedro.
“Com novos estudos podemos compreender a importância ecológica daquela espécie para outros seres vivos, substâncias químicas importantes, seus possíveis usos, entre outros. É o nome de uma espécie que vai permitir a comunicação entre aquele ser vivo com as diversas áreas do saber, com o público e com os decisores políticos”, explica o pesquisador, destacando que o fato de descrever uma espécie nova não é equivalente a salvá-la. “É através de políticas de conservação que a biodiversidade é protegida.”
Ameaça de extinção
O professor do ICB Luiz Menini, que também participa da equipe responsável pela pesquisa, ressalta a importância da descoberta como um meio de preservação da espécie, que corre o risco de extinção. “A extinção de uma espécie pode levar a um desequilíbrio, mesmo que não saibamos exatamente qual papel ela desempenha no ambiente. Descobrir e descrever as espécies ainda não conhecidas é um primeiro passo em sua conservação, e consequentemente, conservação do ambiente que a cerca, uma vez que todas as espécies têm direito a existirem”, explica Luiz.
O cerrado é a região com maior diversidade de espécies do gênero Stachytarpheta, ao mesmo tempo em que também é uma zona altamente ameaçada pela degradação, o que provoca a perda da biodiversidade e a extinção de várias espécies. Pedro alerta para a necessidade da existência de uma colaboração entre legisladores, taxonomistas, biólogos conservacionistas para proteger espécies raras e ainda pouco conhecidas com distribuição restrita, como a Stachytarpheta salimenae. “O Cerrado possui uma flora herbácea e arbustiva riquíssima, mas infelizmente vem sendo altamente destruído principalmente pelas queimadas e pelo avanço do agronegócio que transforma grandes extensões de vegetação original em monoculturas e pastagens”, aponta Pedro.