Erosões e depressão profunda expõem má conservação da AMG-3085
Problemas na rodovia, que liga BR-040 à MG-353, vêm se agravando. Deslizamentos de terra e entupimento das canaletas também aumentam riscos de acidentes
Inaugurada em 2018, a rodovia AMG-3085, que liga a BR-040 à MG-353, enfrenta consequências da má conservação. Erosões, deslizamentos de terra e uma depressão no primeiro quilômetro da pista são os principais problemas, que escancaram os perigos para os motoristas que trafegam pela estrada. A Tribuna esteve no local e verificou que situações já observadas pelo jornal em reportagem publicada em fevereiro de 2020 continuam se agravando, aumentando os riscos de acidentes.
É o caso da depressão no primeiro quilômetro da rodovia, logo após o trevo da BR-040. No ano passado, o desnível já era visível, mas se transformou em um problema ainda maior. Atualmente, a rodovia, que deveria estar dividida em duas vias, tem um desvio na faixa onde está localizado o problema, que só é sinalizado assim que o motorista entra na curva. Com a passagem desnivelada e crateras na mesma parte da estrada, o trecho está afunilado, e os condutores vão passando por caminhos diferentes para atravessar a área, o que aumenta ainda mais o risco de colisões.
Um agravante é que a rodovia é rota de veículos pesados e é atravessada, inclusive, durante a noite. A aproximação do período chuvoso aumenta ainda mais o receio com relação ao terreno, que parece estar cedendo, chamando atenção para as erosões na área. Também com as chuvas, a possibilidade de deslizamentos de terra são outro risco que os motoristas acabam enfrentando.
Questionada pela Tribuna sobre a sinalização ante os problemas observados, a assessoria de comunicação do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) afirmou que a rodovia oferece passagem para o tráfego de dois veículos com tranquilidade, e que a reposição das placas de sinalização será feita com regularidade pelo departamento. Eles apontam que, mesmo assim, “cabe aos motoristas manterem velocidade compatível com a segurança do local”. Ainda conforme o DER, recentemente foram realizadas uma operação tapa-buracos e roçada, para limpeza das margens da rodovia.
Acidentes
A estrada AMG-3085 foi inaugurada em 2018, com um investimento de R$ 67,5 milhões. Desde a inauguração, já ocorreram acidentes no local. Em 2019, um motociclista morreu em um acidente na estrada, tendo sofrido uma batida com um veículo em uma das curvas próximas ao km 11. Em fevereiro de 2020, cinco pessoas ficaram feridas após uma colisão de veículos no trecho próximo à Barreira do Triunfo, na Zona Norte de Juiz de Fora. Ainda em fevereiro do mesmo ano, um carro capotou no km 14 da estrada.
Canaletas entupidas aumentam risco de contaminação da represa
As canaletas de escoamento instaladas na beira da pista também são parte dos atuais problemas da AMG-305. Instaladas para que os caminhões com carga pudessem passar sem ter risco de contaminação do manancial em caso de vazamento de carga na pista, os equipamentos estão entupidos, o que aumenta o risco de acidentes ambientais. É o que diz o engenheiro e coordenador do Núcleo de Análise Geoambiental (Nagea) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Cézar Barra: “É uma questão de tempo para ocorrer um acidente e inviabilizar o uso da água da represa Dr. João Penido”.
O especialista revela que a estrada passa por uma área muito sensível, cortando diversos córregos do manancial. Para ele, a situação já apresentava risco desde o começo da construção da estrada, mas a promessa de abertura de canaletas nas travessias e de construção de barreiras de concreto fazia parecer possível a contenção de acidentes.
O problema é justamente que, durante seu tempo de estudo na área, ele observou que algumas condicionantes da Licença de Operação não foram cumpridas. Dentre elas, Cézar cita a falta de redutores de velocidade na travessia dos córregos e de caixas de concreto para recolher líquido poluente no caso de acidentes com cargas perigosas.
Ele revela que o maior risco é que, caso ocorra algum acidente com derramamento desse tipo de líquido, a área inteira vai ter que interromper o uso dessa água, e o impacto na biodiversidade será enorme. “No caso de um acidente na área, a tecnologia para separar um líquido poluente da água é bastante complexa. Até os órgãos que fazem esse tipo de monitoramento tomarem uma iniciativa para resolver a questão, pode ficar ainda mais difícil fazer a separação”, ele revela.
Sobre essa questão, o DER afirma, em nota, que “um conjunto de ações estão previstas nas condicionantes ambientais da rodovia AMG-3085 que vão proteger a área do manancial. Os serviços já foram licitados pelo DER-MG e serão iniciados tão logo sejam concluídos os procedimentos do processo licitatório”.