“Fake news faz parte da nossa vida. Quem nunca contou uma mentirinha para a namorada?”, perguntou o chefe do Planalto durante uma solenidade. Ao comparar uma fake news com uma “mentirinha”, o único intuito que podemos depreender desse ato é que existe o uso de um jogo de palavras com o objetivo de ludibriar, ludibriar ainda mais e ludibriar sempre. Uma forma infame de retirar das notícias falsas a responsabilidade maléfica de fraudar a realidade, passando a reproduzir realidades outras bem aquém dos fatos.
Os efeitos dessa tática que tem a desinformação como base, como já se sabe, levou à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Basta uma pesquisa no google para encontrar vasto material que aponta sobre os efeitos das fake nas eleições americanas, algo que também pode ser relacionado ao resultado da última eleição presidencial no Brasil.
Então, uma fake news não se trata de uma “mentirinha” ou um apelido carinhoso como gostaria de nos fazer crer o chefe do Planalto. Numa época de pandemia, como a que estamos ainda vivendo, porque o coronavírus ainda não deixou de circular por aqui, as fakes news são perigosas e até criminosas, já que muita gente não se cuidou de forma necessária para não se infectar, acreditando nas receitas caseiras para enfrentar o vírus.
Tanto é verdade que o próprio Ministério Saúde, ligado ao Planalto, criou de maneira inovadora um WhatsApp para combater os boatos, com técnicos oficiais para responder à população sobre o que seria mentira ou verdade. Logo, fakes news não podem ser uma “mentirinha”, porque dependendo do tamanho da fraude, vidas podem ser perdidas.
Como bem ressalta a jornalista Eliane Brum em suas colunas no El País Brasil, está claro que, hoje, no Brasil, existe o que ela chama de estupro da linguagem, um método que, segundo ela, fez o trumpismo produzir impactos profundos na estrutura de poder nos Estados Unidos, uma vez que corrompe a imagem da democracia e resulta em cenas como a invasão do Capitólio. Para Eliane Brum, essa situação, que era impensável até então, abre a porta para uma série de novos episódios e pode ser o que já vem ocorrendo em solo brasileiro.
Em outras palavras, o que a jornalista do El País Brasil vem tentando nos alertar é que a viralização de discursos nas redes sociais, sendo a grande maioria pautada em fake news, colabora para a sociedade “aceitar” o inaceitável. E tudo isso de forma estrondosa, uma vez que esses boatos são impulsionados pela velocidade da internet.
Como já disse aqui neste espaço, atualmente, em nosso país, não faltam tentativas de burlar o real, e as fakes news são provas cabais da perversidade dessa política desligada dos anseios da população. Existe, da nossa parte, a necessidade de estar alerta, de buscar as informações corretas e o entendimento da gravidade de uma fake news.
Mitigar os impactos das falsas notícias comparando-as com “mentirinhas” não é nada democrático, sem falar que nos tira o direito de fazer uma crítica verdadeira sobre os fatos que nos rodeiam, roubando nosso próprio poder de decisão.