‘Gente que fez a Tribuna’: Ricardo Bedendo e a pedagogia da redação
Lições de vida e de jornalismo na memorável e pedagógica redação
Ricardo Bedendo, repórter da Tribuna entre 1998 e 2004
Sempre tive um olhar pedagógico sobre a redação da Tribuna de Minas. O meu sentimento é de ter sido “educado” para a profissão em um espaço representativo da figura de linguagem perfeita de uma escola do jornalismo. Muitas foram as lições de vida e de trabalho, desde 1995, quando tive a oportunidade de estagiar na editoria de Esportes. Foi um período curto nesta época, mas os “toques de bola” com o jornalista Ivan Elias, meu editor, me deixaram “na cara do gol” para seguir em frente e ainda mais apaixonado pela escolha da carreira.
Em 1998, lá estava eu de volta para aquela “instituição de ensino superior” onde fiz inúmeras e riquíssimas “pós-graduações” até 2004, mas, desta vez, no Jornalismo Policial que, aos poucos, comecei a denominar de Jornalismo de Segurança Pública. Passei por muitas provas e o mais profundo e bonito é que as respostas sempre foram construídas coletivamente, com uma equipe de professores digna da maestria do jornalismo. O fim de tarde e início da noite eram períodos agitados e de grandes aprendizados na redação. Chegava das apurações pelas ruas da cidade e da região, subia correndo as escadas com o HT de comunicação na cintura, e precisava nem que fosse de 5 minutos para respirar fundo antes de começar a escrever. Tudo muito intenso. Mexiam comigo os impactos das diferentes realidades vivenciadas com o bloco de anotações e a caneta nas mãos.
No jornalismo de Segurança Pública moldado na Tribuna de Minas, aprofundei minha visão da vida como ela foi, é e poderia ser. Então, tenho na minha memória a imagem de tudo o que acontecia na redação quando retornava entre 17h30 e 18h30. Alguns editores já na sala de reuniões para “bater o martelo” sobre a edição do dia seguinte, outros ainda nos seus computadores nos últimos ajustes para a diagramação final, repórteres a “seus postos” fechando as matérias, a televisão próxima às janelas no volume máximo para acompanharmos os noticiários, e os diagramadores atentos às páginas que iam ganhando formas. Ah, e os fotógrafos? Acreditem, jovens jornalistas, sem a tecnologia digital de hoje, lá estavam na loja da Fuji, na Rua São João, aguardando até duas horas para revelar as fotos do dia.
Eu compunha aquele cenário com uma energia e alegria inesquecíveis. Sentava-me para escrever, com a consciência de que, a qualquer instante, poderia me levantar às pressas para apurar o fato imprevisível, aquele que gostava de “chegar” quando estávamos já nos detalhes finais do fechamento da edição. E aconteceu várias vezes. Desafiamos o relógio, mas ganhamos relíquias. Timaço com fôlego e paixão memoráveis pela arte do jornalismo. Assim, fomos aprendendo juntos as demarcações, os avanços da linguagem da editoria de Segurança Pública, as questões éticas e os impactos sociais de cada vírgula redigida. Alguns acontecimentos nos exigiam horas de debate durante o dia, para interpretarmos e encontrarmos a melhor angulação da notícia, as fontes mais significativas, as imagens de maior representatividade, a posição mais estratégica na página, a manchete que melhor resumia a informação. Nesta escola, todos tinham a ensinar.
Nas ruas, como aprendi também com os fotógrafos que cobriram comigo desde os casos mais simples aos mais surpreendentes, que tanto me inquietaram sob o ponto de vista das causas sociais. Ótimas recordações também dos motoristas e suas histórias do volante e das “estradas da vida” de horas dedicadas aos trajetos da notícia. É emocionante saber que tenho sim uma família do jornalismo representada pela Tribuna de Minas. Dizem que “a vida começa aos 40” e não tenho dúvidas de que este jornal se renova então ainda mais vívido no meu coração e na minha memória. O meu muito obrigado ao meu sempre editor-chefe Paulo Cesar Magella, por meio do qual, deixo a minha carinhosa saudação a todos e a todas que comigo trabalharam e me ensinaram e aos que atualmente “estudam” nesta escola.
Tópicos: tribuna 40 anos