Sol Mourão estreia como diretora no curta “Sobre(Viver)”
Produção mostra o drama de jovem que sofre preconceito em casa por causa de questões de gênero
É sobre viver e como sobreviver: estes são os pontos nos quais a diretora Sol Mourão se baseou para criar o curta-metragem “Sobre(Viver)”, que desde o último dia 19 está disponível no canal do Coletivo Sobre(Viver) no YouTube. A produção foi realizada por meio do edital Arte Salva, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e mostra a dura realidade de grande parte da população LGBTQIA+ no contexto familiar, potencializado pela necessidade de isolamento domiciliar exigida pela pandemia.
A história mostra o cotidiano de Thiago (Mourão), um jovem que precisa encarar seus conflitos internos e externos durante a pandemia, em que a necessidade de afeto e amor são frustradas por causa de relacionamentos virtuais malsucedidos, culminando com a violência paterna no ambiente doméstico. Misturando drama, teatro e dança, a produção mergulha ainda no processo de transformação do/da personagem.
Sol Mourão conta que sua primeira experiência no audiovisual teve como motivador a pandemia, uma vez que o grupo de dança do qual faz parte – o Remiwl Street Crew – precisou pausar suas atividades.
“Comecei a escrever o roteiro em julho do ano passado para tentar a seleção no festival. Começou com a ideia de ser um curta de apenas 15 minutos, mas as coisas foram crescendo no decorrer do processo, com o surgimento de novas ideias”, relata a diretora, que contou no projeto com a participação de Lucas Machado como o pai do/da protagonista e Raissa Salgado, Wendel Victor, Lidiane de Oliveira e Marcos Guilherme na equipe de produção. As filmagens aconteceram entre novembro de 2020 e março deste ano, em Juiz de Fora.
Sobre o título do curta, Sol Mourão explica que o intuito era que ele expressasse tanto o sentido de sobrevivência quanto o do “sobre viver” para pessoas LGBTQIA+ em ambientes de incompreensão e preconceito, em especial no ambiente domiciliar. “No primeiro sentido, sabemos que muitas pessoas LGBTQIA+ precisam sobreviver todos os dias na sociedade, enquanto que no segundo é sobre como elas vivem todos os dias nessa sociedade, nas famílias, para que as pessoas possam entender essa realidade”, pontua.
Experiências múltiplas
Um dos motivos para que o curta tenha chegado a 40 minutos de duração – ao invés dos 15 minutos previstos anteriormente – é que Sol Mourão acrescentou outras vivências à sua. “Acabou se tornando um pouco de cada coisa, minhas experiências pessoais e histórias de pessoas que conheço. A ideia inicial era mostrar apenas as minhas experiências, mas como sou professora em um projeto social recebi vários relatos de alunos meus que, por estarem em isolamento social, precisam conviver com muitos familiares não aceitam e apoiam as pessoas LGBTQIA+, e por isso passaram por vários problemas. Resolvi combinar essas histórias à minha, pois são muitos os casos de violência física, psicológica e emocional”, conta.
A concepção de “Sobre(Viver)” se deu em um momento importante na vida de Sol Mourão, em que iniciou sua transição para ser vista como uma mulher trans. “No meio de tudo isso estava tentando me entender de fato, porque não conseguia me identificar como um menino cis. O curta me ajudou muito a entender quem eu sou hoje, pois estive próxima de pessoas que ajudaram na produção e que foram as primeiras com quem pude conversar sobre essa transição. Quando tive o apoio delas isso se tornou mais tranquilo e suave, além de ter começado a morar sozinha”, afirma a diretora, que planeja fazer outros curtas ligados à temática LGBTQIA+.
“Quero produzir histórias de sobre as outras letras da sigla. Esse começou falando sobre a letra ‘G’ e terminou com a letra ‘T’; teve início com o Thiago, mas terminou com o que me identifico hoje, como mulher trans e travesti.”
Por causa do curta-metragem, Sol criou com outros cinco artistas o Coletivo Sobre(Viver), pelo qual planeja realizar seus futuros projetos. “Pretendemos produzir mais coisas em audiovisual, estamos nos inscrevendo em editais para realizar esses projetos. E também temos ideias ligados à dança, cursos e outras atividades assim que passar a pandemia.”