Casal catarinense desbrava as Américas a bordo de uma Kombi

Nilson e Josseli planejam passar por Juiz de Fora em julho; expedição conta com trabalho social de proteção a crianças e adolescentes


Por Nayara Zanetti, estagiária sob supervisão de Eduardo Valente

20/06/2021 às 07h00

No dia 10 de março, o casal Nilson Weirich, 51 anos, e Josseli Weirich, 49, iniciou uma jornada saindo de Joinville, município no Norte do estado de Santa Catarina, com destino aos extremos das Américas. Do Ushuaia ao Alaska, a expedição “De Cabeça pelo Mundo” irá percorrer 18 países morando em uma Kombi 2009, apelidada de Cabeçuda. Entre as cidades mineiras presentes no roteiro está Juiz de Fora, onde a dupla planeja passar em julho.

Após a aposentadoria, o casal percebeu que estava na hora de embarcar em uma nova aventura. “Nós adoramos viajar e um dos sonhos que tínhamos era conhecer a América do Sul, então começamos a pesquisar para fazer uma viagem de 30 dias de férias e vimos a possibilidade de estender para mais tempo”. Porém, o propósito da viagem é ainda maior. Depois de trabalhar por 13 anos no combate ao abuso sexual infantil em uma organização não governamental (ONG), no bairro em que morava em Joinville, Nilson decidiu junto com Josseli expandir o tema para outras fronteiras.

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Casal viaja a bordo de uma kombi 2009 do Sul do Brasil em direção ao Alaska (Foto: Arquivo pessoal)

Missão além da aventura

A ONG em que trabalhava atende cerca de 1700 crianças e adolescentes, oferecendo diversos serviços, desde aulas de teclado a coral nas escolas. Nilson conta que coordenou uma rede de proteção e implantou uma articulação comunitária, na qual igrejas, órgãos públicos, lideranças da comunidade e associação dos moradores trabalham juntos em prol desta causa. “Eu não queria parar de fazer a missão que a gente tinha na rede de proteção. Principalmente na prevenção e combate ao abuso sexual infantil e toda violação de direito as crianças. Dessa forma, nós resolvemos fazer essa volta ao mundo e realizar esse trabalho social por onde passarmos”, ele explica.

Entre as ações promovidas durante o trajeto estão palestras para professores acerca da prevenção ao abuso sexual infantil. “Eu percebi que os professores na rede municipal de Joinville tinham dificuldades em trabalhar essa questão. Muitas vezes, o educador pode ser a única pessoa de confiança da criança para contar o que está acontecendo, por isso ele deve saber o que fazer com essa denúncia. Dessa maneira, nós motivamos os professores a entender que é obrigação deles também, e orientamos como receber e tratar uma denúncia. Estamos sugerindo essas campanhas nas cidades em que vamos passar para que este tema seja discutido.”

Ecoturismo

Além disso, fomentar o escotismo também é um objetivo dos viajantes para incentivar o cuidado com a população infantojuvenil. “Nós somos escoteiros e queremos montar grupos por onde passarmos. Já estamos em contato com pessoas interessadas na iniciativa, como é o caso da elaboração de um projeto para implantar o escotismo no sertão”, conta a dupla.

 

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Nilson e Josseli Weirich viajam com o propósito de incentivar o ecoturismo e falar sobre o combate ao abuso sexual infantil (Foto: Arquivo Pessoal)

Planos em Juiz de Fora

A distância percorrida até o momento não foi tão longa em razão da pandemia de Covid-19. “Essa é a parte mais complicada, estamos limitados a encontrar pessoas e corremos o risco de chegar a uma cidade que está em lockdown. Tomamos todos os cuidados, diminuindo o contato com pessoas apenas quando necessário, e procuramos visitar locais mais isolados. Não pretendemos sair do país enquanto a pandemia não estiver sendo resolvida”, afirma Nilson.

Com isso, a chegada a Juiz de Fora, planejada para junho, foi adiada para o próximo mês. O casal comenta que está animado para visitar o município. “Temos dois amigos que moram na cidade e estamos curiosos para conhecer os pontos turísticos, as comidas típicas de Minas e as pessoas”. Em relação aos projetos que desejam realizar, eles revelam que estão abertos para contatos que queiram organizar trabalhos sociais. “Estamos nos colocando à disposição da cidade para contribuirmos com a nossa experiência”, revela a dupla.

Em 2020, Juiz de Fora ficou em 4° lugar na lista das 20 cidades com mais casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes em Minas Gerais, divulgada pela Polícia Civil. “Eu sei que a cidade tem um problema muito sério com o abuso sexual de crianças. Acredito que podemos trabalhar juntos nesta luta contra a violação dos direitos dessa população”

‘Nossa casa é pequena, mas nosso quintal é grande’

Cidades históricas de Minas Gerais, praias Nordestinas, Cordilheira dos Andes, deserto do Atacama. São inúmeros lugares, com diversas paisagens, vistas pela janela da Kombi. Cada experiência, conforme o casal, é aguardada com ansiedade. “A nossa casa é pequena, mas nosso quintal é grande. Nós vamos morar em terrenos diferentes a cada dia, vamos conhecer cada canto do mundo, os lugares que normalmente as pessoas não vão quando é uma viagem de turismo.”

O contato com novas pessoas e diferentes lugares se distancia da antiga rotina que ambos tinham em Joinville. “Uma das coisas que mais irá me marcar é a imersão da cultura, conviver com as pessoas do local e não apenas passar pela cidade”, afirma Nilson. “São limitações e alegrias juntos. A melhor parte é a liberdade de estar em lugares diferentes a cada dia”, completa Josseli.

A jornada está sendo documentada pelas redes sociais do projeto. O casal divide através do Youtube e Instagram (@decabecapelomundo) os desafios e curiosidades encontrados no meio do caminho. A intenção é incentivar as pessoas que possuem o mesmo sonho de viajar pelo mundo. “A gente espera aproveitar cada quilômetro rodado, desde uma árvore na beira da estrada até novas amizades.”

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