Estamos de luto por quĂȘ?

Por Marcos AraĂșjo

Estamos de luto porque estĂĄ difĂ­cil enxergar luz no fim do tĂșnel. Estamos de luto porque estamos cansados, porque carecemos de cuidado e de afeto.

Estamos de luto porque furtaram nossas cores, restando-nos os dias sombrios. Aonde foram parar nosso verde, azul e amarelo? EstĂŁo perdidos e nĂŁo sabem o caminho de volta.

Estamos de luto porque jĂĄ nĂŁo nos Ă© permitido sorrir. Cerraram nossos lĂĄbios, encheram de obstĂĄculos nossa sensibilidade, sumiram com nossas delicadezas e abafaram nosso choro.

Estamos de luto porque apagaram o brilho do nosso olhar, amargaram nosso paladar, e o jasmim nĂŁo tem mais seu cheiro doce.

Estamos de luto porque perdemos a confiança, porque estamos com medo. Porque tem muita gente pensando no próprio umbigo. Porque tiraram nosso chão e nos viraram de pés para cima.

Estamos de luto porque subtraíram a verdade, transformaram-na em suas próprias vontades. Estamos de luto porque querem tirar nossa educação e nossa memória, porque querem nos deixar doentes e com fome. Porque querem nos fazer acreditar em um falso e interessado conceito de liberdade.

Estamos de luto porque, Ă s vezes, jĂĄ nĂŁo sabemos quem somos e nĂŁo reconhecemos os outros. Todos mudamos. E o que seremos depois do luto? SerĂĄ possĂ­vel reconciliar?

Estamos de luto porque o amigo do nosso amigo perdeu alguém que amava. Estamos de luto porque nosso amigo perdeu alguém que amava. Estamos de luto porque milhares de pessoas perderam alguém que amavam, e outras milhares perderam a vida.

Estamos enlutados! E são tantas as razÔes. Mais de 450 mil até agora. Jå não serå o bastante? Nada mais desumano do que o desdém pela vida! Estamos enlutados, porque jå não é possível lidar com tantas perdas.

Estamos de luto porque tentaram roubar nossa esperança. NĂŁo existe certeza, mas o tempo pode trazer a resposta. É preciso que mantenhamos o equilĂ­brio e que encontremos maneiras de nos reconectar com nossa humanidade atĂ© o luto passar. Porque vai passar!

Marcos AraĂșjo

Marcos AraĂșjo

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