O Fantasma do Mineirão
Na metade da década de 1960, o Tupi surpreendeu os grandes clubes de Minas Gerais e criou uma lenda que ganhou o Brasil: o Fantasma do Mineirão. A expressão, cunhada pelo comentarias belorizontino Osvaldo Faria, da Rádio Itatiaia, e pelo técnico da equipe Geraldo Magela Tavares, estampou os jornais depois das vitórias em sequência sobre Cruzeiro, Atlético-MG e América-MG, e até hoje identifica uma das passagens mais gloriosas de toda a história do Tupi.
Segundo quem esteve em campo contra essa equipe mitológica, os carijós tinham muita qualidade. O Tupi era um carrapato. Na marcação, não largava a gente. Quando tinha a bola, não soltava de jeito nenhum. Eram jogadores de muita técnica e marcação forte também. Foi isso que mais me marcou, conta o ex-meia Dirceu Lopes, ídolo do Cruzeiro. Enfrentar jogadores da categoria do João Pires (ex-atacante do Carijó), por exemplo, era duro, concorda Jair Bala, ex-atacante do América, que depois viria a ser técnico do Tupi.
A lenda começou a ser construída em 1965. Depois de terminar o primeiro turno do campeonato da cidade em último lugar, o Tupi trouxe de volta o técnico Geraldo Magela Tavares e venceu o segundo turno, batendo na decisão o arquirrival Tupynambás. Naquela época havia o hábito de convidar o campeão de Belo Horizonte para jogar contra o campeão daqui, conta Toledinho, meia e ponta daquela equipe. O jogo serviria também para gerar renda e dar uma gratificação aos atletas pela conquista, acrescenta Magela.
No Salles Oliveira, no dia 6 de março de 1966, o Cruzeiro foi vencido por 3 a 2. Em seguida, sabendo da derrota do rival, o Atlético-MG convidou o Tupi para um embate em Belo Horizonte. Nova vitória por 3 a 2 do Carijó, no dia 10 de março. O terceiro clube da capital então chamou o time de Juiz de Fora para tentar batê-lo e caiu por 2 a 1, também na capital, no dia 6 de abril. Na sequência, a revanche pedida pela Raposa terminou em outro 2 a 1 para os juiz-foranos. Então, o Osvaldo me chamou e disse: ‘esse time é um fantasma’. E eu completei, ‘é, o Fantasma do Mineirão’, relembra Magela.
Para quem estava em campo, a qualidade da equipe continua viva na memória. Nos fechávamos fortemente e saíamos com rapidez, com o João Pires, o Francinha, o Vicente e eu usando nossa velocidade. Era ruim de segurar, lembra Toledinho. Não tinha ninguém grosso, não. Todo mundo marcava, mas todo mundo tocava a bola e segurava com precisão. Eram todos jogadores de qualidade e, principalmente, muito amigos. Acho que esse era nosso principal segredo, considera João Pires.
Sabendo dos feitos do Tupi, o técnico da Seleção Brasileira, Vicente Feola, que preparava o time canarinho para a Copa de 1966, convidou os juiz-foranos para um jogo-treino em Caxambu. Depois de o Carijó sair na frente, o empate de 1 a 1 acabou saindo só após uma extensão do tempo combinado de atividade e gerando um novo embate, desta vez em Três Rios. Desta vez, a Seleção ganhou por 3 a 2, com os juiz-foranos desperdiçando um pênalti no fim da partida.