Em 12 meses, preços dos carros novos disparam
Vinte e seis dos modelos mais vendidos tiveram as tabelas reajustadas em mais de 16%, em média
Os preços dos carros novos dispararam no Brasil. Em 12 meses, 26 dos modelos mais vendidos tiveram as tabelas reajustadas em 16,14%, em média. A alta é bem maior do que a inflação de 2020, que foi de 4,52%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Dos hatches, o Gol, da Volkswagen, por exemplo, ficou 19,5% (R$ 9.170) mais caro em um ano. O novo Chevrolet Onix, carro mais vendido do País, encareceu 22,94% (R$ 11.400). Para comparação, o IPCA do carro em 2020 foi de 4,03% (novo) e 2,8% (usado).
O levantamento foi feito pela Kelley Blue Book (KBB), multinacional do setor de avaliação de veículos, em parceria com o Jornal do Carro. Foram comparados os preços sugeridos pelas fabricantes em meados de fevereiro de 2020 com as tabelas do mesmo período de 2021. Os preços são os das versões de entrada, as mais simples, dos respectivos modelos.
Segundo as fabricantes, a alta é resultado da desvalorização do real e do consequente aumento dos preços de matérias-primas e insumos no mercado internacional. Elas também se queixam da carga tributária no País.
No caso do Onix, a versão de entrada da nova geração era vendida a partir de R$ 49.690 em fevereiro de 2020. Agora, o mesmo modelo, com motor 1.0 e câmbio manual, tem tabela a partir de R$ 61.090.
Já o Volkswagen Gol 1.0, também com câmbio manual, cuja tabela começava em R$ 47.020 em fevereiro de 2020, atualmente é oferecido a R$ 56.190. Até mesmo o Ford Ka, que deixou de ser produzido no Brasil, teve o preço reajustado acima da inflação.
Sedãs e SUVs compactos
Assim como os hatches, em todos os demais segmentos os veículos vendidos no Brasil ficaram bem mais caros. Dos sedãs, o Onix Plus, que está no topo do ranking de vendas de compactos, subiu 18,38% (R$ 10.330) em 12 meses. Ao mesmo tempo, a versão sedã do Yaris que a Toyota produz em Sorocaba (SP) teve o preço reajustado em 17,08%, ou R$ 11.700. A tabela passou de R$ 68.490 em 2020, para R$ 80.190 agora.
A tabela do Volkswagen Virtus subiu 14,58% – muito além da inflação. No caso da versão 1.6 MSI com câmbio manual, o aumento foi de R$ 9.975. Ou seja, o preço sugerido passou de R$ 68.415 para R$ 78.390.
Entre os SUVs compactos, o líder de vendas é o T-Cross. E foi justamente o Volkswagen que mais encareceu em 12 meses. A alta da versão de entrada no período foi de 16,57%. Ou seja, a tabela saltou de R$ 84.990 para R$ 99.070 agora. Dessa forma, está R$ 14.080 mais alta.
Já o Honda H-RV teve o preço da versão de entrada reajustado em 13% no mesmo período. Em outras palavras, agora o carro parte de R$ 105.100.
Picapes
Com curva de vendas em alta, as picapes estão se transformando nas queridinhas do consumidor no mundo todo. E no Brasil não é diferente. Mas nem por isso elas foram poupadas das sucessivas altas nas tabelas.
A Fiat Strada é, disparado, o modelo mais vendido do segmento no País. A nova geração teve o preço reajustado em 9,58% desde que chegou às lojas, há cerca de seis meses. A picapinha feita em Betim (MG) foi lançada com tabela inicial de R$ 63.590. Mas, após vários reajustes, que somam R$ 6.095, a tabela agora parte de R$ 69.685.
Com reajustes ainda maiores, as picapes médias, como Chevrolet S10 e Toyota Hilux, estão entre os modelos com os preços mais salgados entre os carros vendidos no Brasil. No caso da S10, que é feita em São José dos Campos, o reajuste em 12 meses foi de 33,14%. Em valores absolutos, estamos falando de um acréscimo de R$ 37.550 para a versão de entrada, Advantage, com cabine dupla e motor 2.5 flexível. O preço sugerido para o modelo era de R$ 113.290 há 12 meses e agora é de R$ 150.840.
No caso da Hilux, que é feita pela Toyota na Argentina, a alta do preço da versão SR, com cabine dupla e motor 2.7 flexível, foi de 26,98% – o aumento chega a R$ 34 mil. A picape média mais vendida do Brasil tinha preço inicial de R$ 125.990 em 2020. Agora, parte de R$ 159.990.
Custos
Já faz alguns meses que as montadoras tentam explicar os sucessivos aumentos de preços dos veículos oferecidos no Brasil. Como justificar, por exemplo, a alta de 16,49%, ou mais de R$ 19 mil, no preço do Jeep Compass? O SUV médio feito em Goiana (PE) é líder de vendas e tinha tabela de R$ 116.990 há 12 meses. Agora, o preço começa em R$ 136.285. E deve subir ainda mais. Isso porque a reestilização do carro chegará ao mercado ainda neste ano.
Segundo a Anfavea, a desvalorização do real é uma das principais responsáveis pelo encarecimento dos veículos no País. Isso porque, com a pandemia, a cotação da moeda norte-americana disparou e chegou perto de R$ 6, em maio de 2020. Assim, matérias-primas, como o aço, além de componentes eletrônicos e insumos importados, que são cotados em dólar, ficaram mais caros
A pandemia também trouxe dificuldades na logística e afetou a produção de peças e insumos básicos, como borracha e plástico. Além disso, o preço do frete subiu. Os carros mais impactados são os que ficam nos extremos das linhas de produtos. Ou seja, de baixo e de alto conteúdo tecnológico.
De acordo com a Anfavea, ainda há pressão por aumentos de impostos, de modo a recuperar a queda na arrecadação. Em São Paulo, por exemplo, o ICMS subiu em 2021. Segundo a associação, a carga tributária sobre o automóvel no Brasil chega a 44% do valor do veículo. Isso em modelos com motor acima de 2 litros, que pagam mais IPI.
“Isso está prejudicando apenas as montadoras? Não. Está prejudicando toda a cadeia”, diz o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. Ele afirma que, no fim das contas, quem acaba pagando por isso é consumidor brasileiro.
Em entrevista ao Estadão, o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Karl Deppen, diz que a covid-19 agravou problemas que o País já enfrentava, como a pressão de alta de custos. Para ele, é preciso fazer reformas urgentemente para garantir que a indústria e outras áreas fundamentais para a economia sejam mais competitivas. “Estabilidade político-econômica é vital para os negócios”, afirma.
A opinião é compartilhada pelo presidente da Volkswagen do Brasil, Pablo Di Si. Ele diz que o setor não precisa de benefícios fiscais, mas de redução da carga tributária. Isso daria condições para que as empresas fiquem no País e façam investimentos.