Brumadinho: continuamos à espera de respostas

Por Marcos Araújo

Procurei no Google imagens das áreas devastadas pela onda de lama em Brumadinho. Fui levado a essa pesquisa instigado por comentários na internet que versavam sobre a necessidade de não deixar cair no esquecimento o que aconteceu há dois anos. As imagens que encontrei, apesar de muitas não serem novidade, tocaram-me profundamente, porque são marcas doloridas de uma catástrofe socioambiental e humanitária que entrou para a história de Minas Gerais e do Brasil, cujo fim ainda é nebuloso.

Decorridos 24 meses da ruptura da barragem, um acidente de responsabilidade da mineradora que atua naquela região, bombeiros militares ainda trabalham à procura de 11 desaparecidos. Nas chamadas “zonas quentes”, que são as áreas de buscas, um tapete de terra seca substituiu o que antes era um terreno úmido, onde bombeiros rastejavam. Hoje, no chão duro, trabalham máquinas pesadas à procura de “joias”, como são tratadas as vítimas por aqueles que trabalham na linha de frente no rastreio de corpos.

Ao todo, o tsunami de rejeitos atingiu 665 pessoas. Foram localizadas 395 com vida. Os corpos identificados pelo IML chegam a 259, sendo 123 funcionários da mineradora e 136 terceirizados ou moradores da comunidade. Até hoje, oito operários e outras três pessoas estão sumidas. Os bombeiros operam nas buscas desde o dia do rompimento, em 25 de janeiro de 2019. Nenhum corpo é identificado desde 28 de dezembro do mesmo ano.
O luto ainda é incompleto. A vida, em Brumadinho, foi alterada sem chances de retorno. Mais de 730 dias depois do desastre, há dúvidas sobre indenizações, abastecimento de água e segurança. Questões essas que amofinam os moradores.

Conforme reportagem do jornal Estado de Minas para relembrar os dois anos da tragédia, a menção da palavra “barragem” ainda transtorna quem vive na comunidade. O agricultor Aílton Vitor Moreira, de 38 anos, sobrevivente do rompimento, contou que ainda sofre de pavor e que jamais retornou à casa devastada pela lama para buscar o que pode ter sobrado. “Nunca mais vou pôr os pés naquele lugar. Saí com a roupa do corpo. O que eu passei, ninguém sabe. Vi foi a morte me perseguindo. Nunca mais as coisas vão ser como antes”, disse. Como ocorre com ele, para outras pessoas que também foram atingidas, o sofrimento pela perda de amigos e familiares só é suportado à base de medicamentos psiquiátricos de uso controlado.

Existe um vazio deixado naquelas terras, e quem sobreviveu ao desastre precisa resistir mesmo sabendo que ninguém ainda foi preso. Quando traumas não são superados, dificilmente deixam de atormentar suas vítimas. São como fantasmas, que, a qualquer hora, surgem para roubar nossa paz. Não deixar que Brumadinho caia no esquecimento é uma forma de resistência e de busca por justiça. No ano passado, quando se completou um ano da catástrofe, dediquei este espaço para lembrar que a vida deve estar em primeiro lugar, para que também não fosse minerada como os minérios, fonte de lucros para grandes empresas. Naquela época, a pergunta que ecoava era: “Até quando?”. Mas, ainda hoje, não tivemos a resposta.

Marcos Araújo

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