Ex-Sport, juiz-forano de 10 anos desperta atenção de clubes e escolhe o Grêmio

Com suporte dos pais e estudo de prioridade, Joãozinho já tem trajetória no futebol movimentada com passagem por Botafogo e interesse de outros grandes do país


Por Iuri Fontana, estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

31/01/2021 às 06h59- Atualizada 01/02/2021 às 11h44

Joãozinho 1 by Welbert Pires
João Gabriel Ladeira de Carvalho posa com as taças conquistadas com a camisa do Sport Club Juiz de Fora (Foto: Welbert Pires)

Um ano e meio no Botafogo, passagens relâmpago por Corinthians e Flamengo, e atualmente no Grêmio. Já foi convidado a fazer parte de Palmeiras, Internacional, Avaí e Atlético-MG. A carreira movimentada no futebol do juiz-forano João Gabriel Ladeira de Carvalho, o Joãozinho, chamaria atenção somente pelo seu histórico, não fosse a sua idade: 10 anos. A Tribuna conversou com a joia revelada pelo Sport Club Juiz de Fora, além do seu pai, o comerciante Leandro Ladeira de Carvalho, e também com o coordenador de base do Verdão juiz-forano, Diego Almeida, sobre o processo de formação e sonhos do jovem e seus familiares.

Nascido no Bairro Bom Jardim, região Leste de Juiz de Fora, Joãozinho é o típico garoto que sempre foi apaixonado por futebol e que desde muito cedo já frequentava escolinhas, como conta o pai. “Sempre gostou demais de jogar bola. Ele entrou na escolinha com três para quatro anos no colégio. Depois passou pelo Balança Rede, com o Serginho no Progresso aos 4 anos, fazendo trabalho de criança mesmo. Com 6, ele ainda não podia fazer parte da escolinha do Sport, pois não tinha a idade mínima. Mas o Diego, por já conhecer ele e o meu filho mais velho, que já treinava lá, assumiu a responsabilidade de colocar ele para treinar com os meninos de 7 anos.”

E foi nessa idade que os testes nos clubes começaram. O primeiro convite foi feito pelo Botafogo. Leandro e o filho faziam o trajeto Juiz de Fora-Niterói todos os sábados. Uma jornada, que por ser muito cansativa, não passou de dois meses. O pai relembra que Joãozinho ficou chateado com a descontinuidade. Com 8 para 9 anos, um novo convite do Botafogo. Nessa altura ele já tinha passado pelo monitoramento de Corinthians, mas havia sido dispensado, e Flamengo, onde treinou durante quase quatro meses. A indecisão do Rubro-Negro sobre o futuro do filho levou Leandro a dizer sim ao novo convite do Botafogo.

O desafio foi aceito em conjunto com uma proposta do técnico e coordenador Diego no Sport: um treinamento especial. “Aceitei esse desafio pleno com o Botafogo e com o Diego. A gente conversou muito e ele falou que o João deveria ter uma metodologia própria, só um tipo de treinamento pra ele render mais. Aí foi onde ele teve um crescimento muito bacana. Isso foi em fevereiro de 2019. Em abril, o Botafogo subiu ele para a categoria de dois anos acima para disputar o Campeonato Carioca. No sub-11 ele passou a ir uma vez por semana e outra no fim de semana. Eu não acho que isso traria uma evolução grande para o Joãozinho por conta do pouco tempo de treinamento e jogo”, avalia o pai.

“Ele decidiu pelo Grêmio”

Mas seria em São Ludgero (SC) que as coisas realmente mudariam de vez para Joãozinho e sua família. O Sport disputou a competição de base com a equipe sub-11. Com a confiança de Diego, Joãozinho integrou o grupo mesmo sendo mais novo. Seu desempenho como volante chamou atenção de Palmeiras, Corinthians – novamente -, Internacional, Avaí, Atlético-MG e claro, o Grêmio. “Quando vieram esses convites eu perguntei a ele o que queria. Ele me respondeu que queria ir para o Grêmio. Ele decidiu.”

Três meses após o convite, Joãozinho se apresentou em Porto Alegre. Foi aprovado e ainda disputou uma competição na mesma semana. Quando questionado se ficou nervoso no momento da peneira, o jovem responde com a frieza de um veterano. “Não fiquei nervoso não. Fui lá pra jogar um campeonato, fui bem e passei.”

Educação primeiro

Logo após o torneio, a comissão da base gaúcha pediu que Joãozinho ficasse no Rio Grande do Sul, mas recebeu uma negativa do pai. “Eles queriam que a gente ficasse lá direto, mas ele tinha aula e eu não aceitei. Ele precisava terminar o ano letivo. A prioridade minha, independente de qualquer coisa, é o estudo. Ele não vai ter como prioridade o futebol se não tiver bem nas aulas. Quando começaram a surgir essas situações de clube, a gente teve uma conversa bem franca para ele saber que eu iria apoiá-lo, mas se as notas baixassem, tudo iria acabar. E uma grata surpresa: as notas até melhoraram.” Perguntado sobre a situação, Joãozinho confirmou aquilo que o pai previu. “Quando ele falou isso eu pensei que tinha que focar bastante porque se piorasse eu não ia jogar. Eu me motivei.”

Joãozinho 6 by Welbert Pires
Joãozinho e o treinador Diego Almeida (Foto: Welbert Pires)

Talento, esforço e exemplo

“Quando a gente recebe essa notícia é uma felicidade muito grande. Primeiro pela alegria do garoto e da família; e segundo porque demonstra que nosso trabalho está no caminho certo. O caminho da formação”, conta Diego Almeida, ao relembrar o dia em que ficou sabendo da aprovação de Joãozinho no clube gaúcho.

Ao lado de Ramon Rodrigues, treinador, a dupla é responsável direta pelo desenvolvimento do garoto. No entanto, o professor Diego também enfatiza que o talento acima da média foi um diferencial somado ao esforço. “O fator determinante para levar ele ao Grêmio foi o talento. No Sport a gente começou a passar conteúdos táticos, técnicos e foi potencializando esse talento de acordo com a idade dele. O grau de concentração também é muito elevado, de entendimento do jogo, e nisso ele consegue se sobressair muito.”

Ainda conforme o coordenador do Sport, ter um garoto revelado pelo clube atuando na base de uma grande agremiação mundial ajuda na motivação de outros jovens que passam a acreditar na possibilidade de realização do sonho. “Para chegar nessa aprovação é preciso treino, conteúdo, dedicação, sacrificar algumas coisas da vida para potencializar as capacidades. Quando eles veem exemplos do lado deles, como é o caso do João, isso se torna mais fácil porque entendem que é possível. A família também vê e isso os motiva a treinar mais. Isso facilita o nosso trabalho no dia a dia.”

“É um desafio muito grande, mas vale a pena”

A carreira de Joãozinho tem um componente muito importante, que talvez explique o bom desenvolvimento do jovem: pés no chão. “O João não tem essa pressão de ser um jogador de futebol porque está dentro de um clube. A preocupação dele é estudar e tentar fazer o melhor que ele puder dentro dos treinamentos. Ele ainda é muito jovem, pode ter outras oportunidades, mas a que ele está tendo é muito grande. Está seguindo o sonho, mas sem aquela coisa de ser a única chance, porque isso não existe. Eu e minha esposa não colocamos pressão nele e ele é muito tranquilo com relação a isso”, esclarece Leandro.

E esse sonho tem duas importantes inspirações para Joãozinho, reveladas na base do Tricolor Gaúcho. “Eu gosto muito do Arthur, da Juventus, e do Matheus Henrique. Quero fazer o caminho deles. Quero me destacar, jogar mais e ir sempre melhorando para quando eu chegar aos 17 anos ir para o profissional do Grêmio. É um desafio muito grande, mas vale a pena.”

No início de 2020, o juiz-forano chegou a disputar uma competição internacional pelo Grêmio e foi um dos destaques da equipe. Entretanto, com o início da pandemia, o jovem precisou retornar a Juiz de Fora com o pai, onde ficaram quase um ano. No último dia 12 de janeiro, Leandro e João embarcaram novamente para Porto Alegre, com uma única missão em mente. “A minha intenção é viver o momento dele. Hoje é ir lá, se divertir, dentro do possível, e ter experiências diferentes. Eu quero que ele fale com o filho que passou um ano ou dois no Sul. Que ele passou um ano e meio no Botafogo. Que o pai dele apoiou. Que as vitórias, as derrotas, as desilusões que vão acontecer e as dificuldades sirvam para ele quando não for mais um possível jogador, se isso acontecer. Quero que ele saiba ouvir o não. Porque ele vai tomar pau no vestibular, na primeira entrevista de emprego, ele vai levar o não da namorada. São coisas que acontecem na vida.”

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