Professor e ex-aluno da UFJF integram lista de cientistas mais citados do mundo
Pesquisadores são citados em pesquisa realizada pela Universidade de Stanford, nos EUA, dedicado a verificar impactos de produções acadêmicas
O professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ilya Shapiro, e o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Marcus Vinícius Nora de Souza, ex-aluno do Departamento de Química da UFJF, estão entre os cientistas mais influentes do mundo, segundo pesquisa realizada na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e publicada no Journal Plos Biology em outubro.
O levantamento se dedicou a atualizar os bancos de dados de métricas de citação padronizadas por meio da plataforma Scopus. Para isso, foram organizadas duas listas, que avaliam, respectivamente, o impacto da produção ao longo de toda a carreira dos cientistas e a produção acadêmica no ano de 2019. Tanto Ilya quanto Marcus estão presentes em ambas. O ranking inclui não só os cem mil cientistas com melhor avaliação do índice de citação composto, mas também os 2% que estão entre as referências para a suas disciplinas e subcampos.
A área do professor Ilya Shapiro é um cruzamento de física de partículas, teoria de campos e cosmologia. Formado na Rússia e trabalhando há 40 anos na área, o professor do Departamento de Física da UFJF já se dedicou a vários temas. “Tenho alguns trabalhos conhecidos pelos especialistas, como, por exemplo, um ciclo de artigos sobre constante cosmológica e efeitos quânticos que podem fazer esta constante variar. Isso tem saída para dados observacionais, então colaboramos com o pessoal de cosmologia observacional.” No entanto, ele é também reconhecido pelos especialistas pelo seu trabalho teórico, ligado à gravitação quântica. Um dos livros publicados por ele em 1992 é considerado um dos mais importantes – referência padrão – na área.
‘Época próspera’
Em entrevista à Tribuna, por e-mail, o professor Ilya Shapiro explica que estamos vivendo uma época muito rica na área de física de altas energias e, especialmente, em astrofísica e cosmologia. “Nos últimos anos tivemos vários prêmios Nobel nesta área. Inclusive, neste ano, pela descoberta de buracos negros supermassivos nos centros de galáxias. Roger Penrose também foi premiado por trabalhos dos anos 60 sobre buracos negros serem consequência da teoria geral da relatividade.”
Shapiro também destaca outros importantes estudos premiados na área. “Nos anos passados tivemos prêmios Nobel para a descoberta do Bóson de Higgs pela Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), para a descoberta de ondas gravitacionais pelo Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (em inglês: Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory – Ligo) e para o desenvolvimento teórico na área de cosmologia moderna, do professor James Peebles.”
Segundo Shapiro, há a esperança de, no mínimo, mais um prêmio Nobel em cosmologia, para um pesquisador que trabalhou no grupo dele e visitou várias vezes a UFJF. Mas o professor ressalta que é difícil garantir que isso aconteça. “Do ponto de vista experimental e observacional, é uma época próspera, mas temos muitas teorias, que, na maioria dos casos, estão bem distantes da parte experimental. Isso tem um lado bom, pois há coisas qualitativamente simples e muito importantes, mas, ao mesmo tempo, difíceis de fazer.”
Contribuições
Ilya Shapiro também destaca que o trabalho com os alunos contribui para as pesquisas, e exemplifica com o trabalho que desenvolve com a ex-aluna da UFJF, Flávia Sobreira, que é professora na Universidade de Campinas (Unicamp). “Ela trabalha numa grande colaboração observacional, mas também continuamos um pouco na minha área.”
Outro ex-aluno de Shapiro, Tibério de Paula Netto, está agora como pós-doutorando na China. “Ele sabe muito mais que eu. Vou dizer que conheço poucos jovens na nossa área com o mesmo nível de preparação”. Junto com Tibério, no mesmo grupo, está Dr. Breno L. Giacchini. Ele foi aluno de doutorado no Rio, mas passou quase dois anos na UFJF, fazendo preparação no grupo de Ilya. “É outro jovem brilhante. Colaborar com jovens muito bons dá grande impacto no meu trabalho, claro. Também colaboramos com vários especialistas de diferentes países”, conta.
Forte conexão com a UFJF
O pesquisador do Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fundação Oswaldo Cruz (Farmanguinhos), Marcus Vinícius Nora de Souza, é líder do Laboratório de Síntese de Substâncias de Combate a Doenças Tropicais (SSCDT) e desenvolve pesquisas na área de Química Medicinal. A equipe estuda uma série de doenças, como tuberculose, malária e leishmaniose.
“O laboratório trabalha com doenças negligenciadas no geral, que acometem países mais pobres e em desenvolvimento. São doenças nas quais as grandes empresas, geralmente, não investem tanto dinheiro”, explica o professor. Um dos focos do trabalho de Marcus Vinícius no momento é o desenvolvimento de medicamentos para a tuberculose. “É uma área muito carente. Apesar de ser um problema de saúde mundial, quase não temos desenvolvimento de novos fármacos. Nos últimos 45 anos, quase meio século, temos apenas um novo medicamento lançado para tratar tuberculose”, conta.
Ele explica que as cepas de bactérias que causam a doença estão se desenvolvendo e criando resistência a todos medicamentos utilizados. “A comunidade científica já se despertou para esse problema, mas ainda temos poucas coisas novas. Trabalho muito nessa área, sobretudo no desenvolvimento de fármacos para combater esses bacilos super-resistentes.”
Ainda de acordo com pesquisador, há muitos desafios. O principal tratamento leva seis meses e, muitas vezes, em função de efeitos colaterais é abandonado antes do final, o que leva a uma segunda escolha, que, além de mais onerosa, provoca efeitos colaterais mais agressivos e é ainda mais longa. “Realmente, esse é um problema grave, e há estimativas de que um terço da população mundial tenha esse bacilo. Como é uma doença que também está associada a fatores sociais e atinge a pessoas que não podem pagar, é algo que motiva a nossa preocupação”, afirma.
Sobre integrar o estudo da Journal Plos Biology, ele considera um reconhecimento importante. “Concorrer com as condições de pesquisa que temos, com instituições de toda Europa, da China, entre outras potências, e ter o trabalho, o grupo de pesquisa e a instituição presentes na lista é uma satisfação muito grande”.
Durante toda a sua trajetória, mesmo passando por outras instituições e locais, Marcus sempre manteve vínculo com a UFJF e permanece atuando em várias parcerias com professores da Universidade.