Bandeira branca
Confesso que sempre torci o nariz para o chileno Jorge Valdivia. Corintiano que sou, a antipatia era quase natural. Quase obrigatória, por mais que sempre faça um esforço sobre-humano para evitar tal tipo de sentimento. Sem ser craque, o meia, que foi ídolo no Palmeiras, é habilidoso e provocador. Logo, não era raro o jogador destilar sua acidez contra a torcida do Corinthians. Daí, a birra destacada algumas frases antes.
A rabugice contra o jogador se esmaeceu nesta quinta. A pacificação se deu quando li uma matéria que destacava Valdivia – hoje no Colo-Colo – distribuindo empanadas em uma fila de metrô em Santiago. Ante aos problemas sociais de seu país, o meia fazia sua parte em meio à convulsão popular pela qual passa o Chile, marcada por uma onda de protestos contra o Governo do presidente Sebastián Piñera.
O meia foi dar seu apoio ao cidadão comum que marca presença nas ruas para cobrar serviços públicos e de qualidade. “Queria dizer que pensei muito, estou de acordo e apoio as demandas sociais. E também que o futebol tem dado sinais de união entre as distintas cores para poder chegar a um consenso e uma solução para ter um país melhor”, destacou Valdivia no Instagram.
Concordemos ou não nas discussões futebolísticas e políticas, ser solidário a quem luta por melhores condições de vida e pela redução de desigualdades é o mínimo que se espera de qualquer um, independentemente de paixões clubísticas ou partidárias. É questão de humanidade. Pura e simples, como me parecem as empanadas de Valdivia.
O fato é que só conseguiremos um mundo melhor quando superarmos velhas birras e estendermos as mãos em gesto de paz para aqueles que nos parecem diferentes. Como estou fazendo com o Valdivia, neste momento. Não há futuro redentor sem harmonia. Não há sociedade justa e igualitária sem pacificação social.
Isto vale tanto para os chilenos, que parecem unidos para enfrentar suas mazelas de peito aberto e garantir avanços sociais de fato; e também para nós, brasileiros, que parecemos divididos em um “fla-flu” infantil quando o assunto é política.
Todos queremos um mundo melhor e a solução disto passa pelo respeito às diferenças e pela busca de soluções consensuais, até mesmo para que não tenhamos que assistir a uma convulsão social como a chilena. Qualquer outro caminho nos manterá distantes de um país melhor e de um futuro mais igualitário.