Juliana James: “Gosto de fazer as crianças se tornarem pessoas críticas e abertas à diversidade”

Por Marisa Loures

Foto Juliana James
Em “Malu”, que tem lançamento previsto para 4 de maio, Juliana James conta a história de uma menina que consegue mudar a história de uma triste cidade – Foto Divulgação

Juliana James é uma escritora que adora conversar. E, entre um bate-papo e outro, acaba achando inspiração para o próximo livro. Claro que levar personagens da vida real para a ficção não é uma obrigação dela, mas acontece. Afinal, ela adora ouvir histórias. Aí surge aquela ideia. Foi assim que nasceu “Ser diferente é legal”, “Qual a cor da sua vida?” e outros títulos que o público juizforano já conhece. Já são oito obras criadas, incluindo, “Malu”, o novo lançamento, programado para o dia 4 de maio, às 10h, no setor infantil da Biblioteca Municipal Murilo Mendes. A manhã vai ser regada à contação de histórias com canções escritas por Juliana e musicadas por Rogério Nascimento.

Malu não existe só na história da autora. Juliana garante que ela é real e encantadora. Assim como a da ficção, que mudou os rumos de uma cidade triste e cinza, transforma a vida das pessoas que estão a sua volta. “Conheci a Malu no fim do ano passado. Estava fazendo uma contação de história, e ela foi me ver. Quando acabou, nós fomos apresentadas, e ela me falou que agora eu teria que escrever uma história para ela. A mãe da Malu me explicou que ela tinha uma doença genética rara: glicogênese congênita tipo 4. Apesar de não poder se alimentar pela boca – apenas belisca, mas não engole -, ela adora cozinhar, principalmente, fazer bolos. A Malu tem uma professora que dá aula na casa dela. Com a psicóloga e todos outros profissionais, a mesma coisa. Ela não pode sair muito de casa por conta da sua imunidade”, conta a escritora, que se derreteu de imediato pela nova inspiração. “Malu me encantou com seu sorriso, sua vontade de viver e sua alegria diante de tantas dificuldades. No livro, eu não falo sobre doença, mas mostro aos leitores como Malu é especial por contaminar as pessoas com seu amor pela vida, por ser exemplo e luz em meio a tanta coisa complicada que nos cerca.”

Além de escritora, Juliana é professora de teatro e produtora cultural. “Malu” é sua segunda parceria com a ilustradora Márcia Evaristo, criadora do Atellier Le Truc.

Marisa Loures – Malu nasceu numa cidade cinza, onde as pessoas andavam tristes. Parecia que elas haviam perdido a esperança. Esse lugar onde se passa a sua história existe só na ficção, ou a vida real te inspirou? 

Juliana James – Esse lugar exageradamente triste e cinza existe na ficção, mas tem grandes semelhanças com a realidade. O ano começou e tantas coisas tristes já aconteceram. A barragem que se rompeu em Brumadinho, as lideranças que tiram direitos importantes das minorias, aquele furacão que devastou cidade da África. Na cidade da Malu, as pessoas magoavam umas às outras, algumas mentiam, outros queriam viver isolados, enquanto uma turma gostava mesmo é de falar mal uns dos outros. Há semelhanças com a vida real, não é mesmo?

– Levando em conta os rumos da sua história, concluo que sua mensagem é de esperança para a vida real…

Sim, pessoas maravilhosas como Malu, a família dela e toda equipe que a cerca me tocam profundamente. Tem muita gente linda nesse mundo também, lutando por causas nobres, ajudando uns aos outros, pensando no próximo. Eu tenho a felicidade de conhecer muita gente assim, sou muito grata a essas pessoas. Alguns são amigos de trabalho, outros, fazem parte da família. Tenho os que são amigos da vida toda e os que conheci há pouco. A mensagem de amor e de esperança é uma homenagem a essa turma de pessoas que me inspiram com suas atitudes e me fazem, assim como a Malu, viver feliz em meio aos nossos desafios diários.

– No ano passado, quando conversamos, você estava lançando “Céu de outono”. É um livro que trata do empoderamento feminino. Raquel é uma garota que questiona a diferença de oportunidades entre meninos e meninas. Falamos sobre a polêmica discussão de estereótipo de gênero em livros infantojuvenis. A obra chegou a ser adotada por alguma escola? Como as famílias das crianças e o público em geral receberam a publicação?  

No fim das contas, deu tudo certo, sabia? Tive uma dificuldade inicial com o livro por conta do tema e dos acontecimentos na época do lançamento. Mas várias professoras trabalharam com ele, o que me deixou imensamente feliz. Ainda na última sexta eu fui a duas escolas falar sobre feminismo e contar a história do livro. Ele foi adotado por algumas escolas no ano passado e neste ano também. Mesmo algumas que não adotaram me chamaram para ir contar história e conversar com as turmas. Recebi também a homenagem na Câmara, a medalha Rosa Cabinda dos Coletivos feministas pelo livro, o que me deixou imensamente feliz. “Céu de outono” terá vida longa com certeza, e é muito bom poder falar sobre um tema tão importante para meninos e meninas. A quem interessar, meus livros se encontram na Ca D’ori Livraria.

– Qual é o retorno que as crianças te deram sobre o livro? Elas entendem bem o que você quer transmitir? 

O contato com eles é maravilhoso. Eles entenderam sim, e o livro abre tantas questões interessantes para o debate! Muitas professoras preparam as crianças para me receber, trabalham o livro antes. A professora Joselaine, por exemplo, fez uma parede imensa na escola dela retratando todas as conquistas da mulher no decorrer da história. Nos meus encontros com as crianças, elas mesmas abordaram temas como preconceito racial, a mulher negra e tantas outras coisas que só nos fazem acreditar mais e mais no poder do diálogo e da  educação. Nessas minhas andanças, vejo que ser professor de infantil, ensino fundamental e médio é vocação, e está cheio de professores fazendo trabalhos arrebatadores, principalmente, em escolas públicas municipais e estaduais. Não que os outros não façam. Tem uma professora no colégio equipe, Paula, que brilha  em tudo o que faz.

– Seu primeiro livro, “Qual a cor da sua vida?”, foi lançado pela editora Giostri em 2013. Você sente uma mudança na sua escrita de lá para cá? Essa mudança foi consciente?

Sim, uma mudança na escrita, e é consciente. Hoje, a responsabilidade é ainda maior. Escolas estão adotando meus livros, e quero tentar fazer sempre o melhor que puder. Fiz um curso ano passado maravilhoso sobre a escrita e pretendo fazer outro neste ano.

“Vejo o mercado como algo assustador. O novo autor não tem espaço, e as editoras cobram pela sua entrada, é preciso investir. E já que é para investir, eu resolvi fazer meus livros de forma independente. É um trabalho de formiguinha.”

– Já são quase seis anos escrevendo para crianças. Por isso, certamente, você acompanha os principais títulos que são lançados para esse público. Como você vê o mercado infantil nacional? A oferta é muito grande, mas e a qualidade? 

Vejo o mercado como algo assustador. O novo autor não tem espaço, e as editoras cobram pela sua entrada, é preciso investir. E já que é para investir, eu resolvi fazer meus livros de forma independente. É um trabalho de formiguinha. Eu mesma levo meus livros às escolas, faço contato com professores, deixo em bibliotecas. Mas, como você disse, agora já são seis anos fazendo todo esse processo. Sobre qualidade, é delicado falar, pois são tantos pontos de vistas e abordagens diferentes, gostos diferentes… Falando sobre o que eu faço, posso dizer que quero continuar melhorando e evoluindo, acompanhando o tempo em que vivo.

– Muitas pessoas são levadas à literatura infantil e juvenil por considerá-la, erroneamente, uma produção “fácil” de ser feita. Para você, como é o exercício de escrever para o público infantil? O que é necessário?

Para  mim, é tão gostoso e natural. Eu gosto de trabalhar com coisas em que acredito. Gosto da ideia de fazer as crianças pensarem, se tornarem pessoas críticas e abertas à diversidade. Cada autor tem sua fórmula. A minha é esta: o contato com meus alunos, as conversas com pessoas, os acontecimentos no mundo, tudo pode nos inspirar a uma bela história.

– Entre os seus livros publicados algum te cativa de forma especial? Por quê? 

Tenho um carinho enorme pelo “Qual a cor da sua vida?” por ter sido o primeiro e pela Beatriz, personagem e inspiração dessa história. Mas amo o “Céu de outono” e o “Ser diferente é legal”, que me abriram tantas portas. E o “Céu de outono” foi minha primeira parceria com a Márcia Evaristo, que ilustrou também Malu. Eu amo os desenhos da Márcia. Se eu soubesse desenhar, iria fazer como ela.

 capa malu 2

“Malu”

Autora: Juliana James

Lançamento: 4 de maio, às 10h, no setor infantil da Biblioteca Municipal Murilo Mendes.

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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