Jogos de poder
Governo deve se dedicar mais ao debate econômico do que gastar energia com o vice-presidente da República
Os dados apresentados nessa quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicando que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial do país, acelerou para 0,72% em abril, devem ser levados em conta, pois foi pressionado especialmente pela alta dos preços de combustíveis e alimentos. Na edição de quinta-feira, a Tribuna mostrou que, em alguns itens, como é o caso da batata-inglesa, o quilo subiu 299,25% na comparação entre 2018 e 2019.
Um dos argumentos para tal majoração foi o aumento de insumos, custo de produção e frete, embora outros componentes também tenham contribuído, o que deve ser observado atentamente pelo Governo, uma vez que é a economia que gerencia comportamentos. Enquanto ela vai bem, tudo vai bem, inclusive a democracia.
Tal assertiva serve de orientação para o debate que se instalou, especialmente em Brasília, envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e o núcleo duro do Governo com o general Hamilton Mourão. Há um nítido embate sob o argumento de o vice-presidente estar atuando como um contraponto ao presidente da República para ganhar visibilidade e tornar-se um player da política nacional.
Mas a grande questão não está no viés político que tem moldado tal discussão. O cuidado com a economia deve ser a principal agenda do Planalto, pois é nela que se situam as principais preocupações. As ruas tendem a reagir quando a conta chega no fim do mês e não fecha, com os haveres ficando aquém dos deveres. Cuidar mais da economia e olhar menos para o vice seria um gesto mais prudente.
Além disso, alimentar um debate que mais serve ao vice do que ao Governo tira de foco questões centrais como a reforma da Previdência, o pacote anticrime e a reforma tributária, que devem ser as prioridades. A base do Governo vive um clima de instabilidade por conta da falta de orientação. Os líderes batem cabeça, e, não fosse a ação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o pacote da Previdência ainda estaria agarrado na Comissão de Constituição e Justiça.
Por isso, dedicar atenção à Comissão Especial instalada para avaliar especificamente o projeto é uma necessidade. Caso contrário, o projeto original sofrerá transformações que cortarão a sua essência.