A água como prioridade

Será que estamos cuidando bem dos mananciais que hoje servem Juiz de Fora? As represas João Penido, São Pedro e Chapéu D’Uvas têm merecido a atenção e o cuidado necessários?


Por Tribuna

23/03/2019 às 17h05- Atualizada 23/03/2019 às 17h13

Quando são tantos os problemas que se têm em um país, muitas vezes, algumas questões hoje nos parecem menores. Quando faltam emprego, segurança, saúde, educação e até a dignidade, é difícil se preocupar com coisas que não dizem respeito à sobrevivência do dia a dia. No entanto, nem tudo o que parece secundário o é. Por isso, é importante lembrar de uma questão primordial neste mês, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) chama a atenção para o Dia Mundial da Água, comemorado no último dia 22.

Já se falou que a água é um recurso natural ameaçado e que é preciso gastar com consciência. Mesmo que a situação do Brasil possa parecer confortável, especialistas alertam que nenhum país estará de fora da crise hídrica ou conseguirá resolvê-la de forma isolada. Essa situação precisa começar a ser discutida de forma mais profunda para que a água não seja um problema que vá levar disputas e guerras aos povos, mas que seja um caminho para o diálogo e o consenso. Diversos líderes internacionais defendem que haja um Pacto Social Mundial em relação à água. Até o ano de 2030, a ONU prevê que quase a metade da população mundial terá problemas de abastecimento. O dado é preocupante quando se pensa no crescimento da população do planeta. Até 2050, o número de habitantes do globo terrestre subirá dos atuais 7,2 bilhões para 9,1 bilhões, de acordo com as previsões da Unesco. O que significa uma necessidade muito maior de produção de alimentos e de gasto de água.

Com este quadro mundial desenhado, ficam as perguntas. Será que estamos gastando nossa água com consciência? A boa notícia é que houve queda no consumo diário de água por habitante no município, como mostrou esta Tribuna. A média local está 8% abaixo da nacional. Mas ainda falta muito para chegarmos ao que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o órgão, o ideal seria o consumo per capita diário de 110 litros, mas ainda gastamos 142 litros. Outra pergunta que fazemos: será que estamos cuidando bem dos mananciais que hoje servem Juiz de Fora? As represas João Penido, São Pedro e Chapéu D’Uvas têm merecido a atenção e o cuidado necessários? Ao longo dos anos, não nos atentamos para a ocupação territorial desordenada nos entornos dessas represas. O que se vê nesses pontos são casas de fins de semana, loteamentos, mansões, uso de embarcações e movimentações de terra que podem trazer ainda mais prejuízos para os lagos.

Hoje até existem debates e leis que demonstram a existência de uma conscientização ambiental em relação à necessidade de preservar, mas as ações continuam muito mais lentas do que a real necessidade. Prova disso é que existe um movimento preocupado com a ocupação do entorno de Chapéu D’Uvas, que já foi chamada um dia de nossa represa do futuro. A intenção é criar um consórcio para gestão compartilhada dos recursos hídricos da represa, que está localizada nos municípios de Santos Dumont, Antônio Carlos e Ewbank da Câmara. Esse grupo quer proteger a bacia hidrográfica da qual a represa faz parte desde as nascentes. No entanto, as ações ainda dependem de autorização da União. Enquanto se luta com a burocracia e até mesmo com a inércia, os impactos ambientais são enormes e se agigantam a cada nova ocupação do homem.

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