O fator Renan

Senador do MDB foi derrotado nas eleições para a presidência do Senado, mas o Governo, se quiser aprovar as reformas, deve tê-lo no radar, pois como adversário pode ser um páreo duro de vencer


Por Tribuna

05/02/2019 às 07h00

A inédita ocupação de dois cargos estratégicos no Congresso pelo DEM – a presidência da Câmara, com Rodrigo Maia, e do Senado, com Davi Alcolumbre – indica que a inovação também chegou ao Parlamento, após décadas de controle do MDB, mas nada que possa ser comemorado por muito tempo. Embora haja afinidade com o Planalto, o Democratas não é, necessariamente, um partido do Governo. Ademais, mesmo derrotado, o senador Renan Calheiros não é um quadro a ser desprezado. Ao contrário, em vez de se sentar em cima dos louros, o presidente Jair Bolsonaro deve reconstruir pontes.

Este é um desafio de curto prazo, pois um Congresso beligerante é sempre um problema para o Executivo. Como tem uma agenda de reformas importantes, a começar pela Previdência, o chefe do Governo tem que exercitar um dos mais difíceis papéis na estrutura de poder: manter os aliados e convencer os oponentes de que a causa envolve um projeto de país, e não apenas do lado que saiu vencedor das urnas de outubro. Para isso, será necessário dialogar com os contrários, o que se mostrou raso nos primeiros dias de administração.

A derrota do senador Renan Calheiros, por sua vez, foi importante para a própria instituição, que se mostrou disposta a desvencilhar-se de velhas amarras forjadas no jogo do toma lá, dá cá. Renan é um camaleão, tendo sido aliado de todos os governos pós-democratização a despeito do viés ideológico. Foi tucano quando precisou, virou petista nas gestões Lula e Dilma e estava pronto para virar à direita com Bolsonaro. Sua derrota sinaliza mudanças, mas não é motivo de comemoração, pois o vencedor se mostrou frágil no discurso e neófito nos rituais da Casa, algo que precisa recuperar imediatamente diante da agenda que terá pela frente.

Tutelado pela base governista e também pela oposição, o novo presidente, o senador Davi Alcolumbre, deve ficar atento aos passos de seu colega de partido Rodrigo Maia. No seu terceiro mandato de presidente da Câmara, este conhece os meandros do poder e será importante tanto para o senador quanto para o Governo. Espera-se, porém, que sua preocupação maior seja com o país.

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