“Fora da caridade não há salvação”, Allan Kardec estampou com todas as letras e formas. “Nada exprime melhor o pensamento de Jesus, nada melhor resume os deveres do homem do que esta máxima de ordem divina”, completa Kardec.
Infantilidade seria pensar a caridade como simples ato de doação material, o gesto quase enfadonho de retirar moedas da carteira para serem dispensadas na cuia trêmula às mãos do mendigo, ou doar a roupa inútil, o móvel semidestruído para o abrigo mais próximo. A caridade material auxilia abrandando a penúria do corpo, mas é necessário relembrar sempre que nem só de pão vive o homem.
Urge o tempo de se praticar a caridade moral. Esta, que não depende dos recursos materiais, podendo ser praticada por ricos e pobres, sozinho ou em grupo, desde que tenha um pouco mais de atenção aos que estão à nossa volta, ou seja, os semelhantes, e se esforçando para reduzir o egoísmo e o orgulho, forças inferiores que entravam o progresso humano e social.
Tacitamente, a caridade moral é o exercício de engrandecimento íntimo, podendo tornar-se pessoal e, quando chegar ao coletivo, será a grande revolução do bem. Para tanto, é necessário observar os campos de atuação que, sob a lente do cristianismo, tornam-se mais evidentes e perceptíveis. Assim sendo, veremos algumas diretrizes. Não vamos esperar que todos se tornem perfeitos para que nos toleremos mutuamente, vamos controlar nosso temperamento, tornando ao próximo mais fácil para que ele nos tolere. Mesmo que alguém esteja falando perturbadamente, contribua com a paz de seu silêncio, sem polemizar o ambiente. Fazendo-se surdo à palavra zombeteira, reduzimos em muito o risco de conflitos, geralmente inúteis. Mantendo-se momentaneamente cego ao menosprezo daquele que se julga superior, evitaremos constrangimentos e azedumes desequilibrantes.
Nos dedicando um tanto mais no esforço pessoal, podemos exercitar a caridade moral, na prática da oração, àqueles que ainda não conquistaram a felicidade de sentir a luz do bem erguida nas palavras e nos exemplos do Cristo.
A caridade material certamente auxilia ao corpo e à vida física, à caridade moral a seu turno, constrói e reconstrói em cada praticante uma parcela de felicidade eterna, permitindo que a penúria da angústia humana termine antes mesmo que a pobreza material que assola o planeta. Por tudo isso, Allan Kardec está absolutamente certo ao afirmar que “fora da caridade não há salvação”.