Resistência é a palavra


Por Vinícius Guida, estudante de Jornalismo da UFJF

26/10/2018 às 07h00

Submersos em um etéreo pandemônio, vemos nossos corpos sucumbirem diante de algo que perpassa Deus e o Homem. A jihad reiniciada em tempos ciber-multi-amplo-culturais e potencializada por falsos discursos — distribuídos em massa através do que um dia foi o sonho democrático — agora nos condena ao fim do que era o início de tudo.
Alice Walker, escritora feminista e ativista negra, publicou na década de 1980 o seminal “Se o presente se parece com passado, com que se parece o futuro?”. Infelizmente, parece que a questão levantada abriga espaços temporais não lineares. Quanto mais nos aproximamos de direitos equitativos, mais aqueles que precisam ceder um pouco dos seus e, diga-se de passagem, um tanto ínfimo na totalidade, retornam ao arcaico. Caminhamos para trás em direção ao obscuro.

É difícil engolir que, depois de tantos avanços, a sociedade retroceda tanto. O asco tornou-se a nova lei: o repúdio que une grupos. Com a massificação do acesso à internet, vista nos seus primórdios como potencial emancipador da esfera pública, a proliferação dos discursos se tornou mais simples e rápida. O ciberespaço, teoricamente aberto e democrático, é, por consequência, um espaço também do ódio. Recitar regras e preceitos nunca foi tão acessível (e programável).

Ainda mais absurdo é pensar nas instituições que têm respondido às questões levantadas por segmentos conservadores da sociedade com aceitação — ou, no mínimo, resignação. São eles os que deveriam manter e defender os direitos dos mais diversos indivíduos, assim como prezar pela maior amplitude de inclusão social. Não só o discurso é mais rapidamente difundido como, também, legitimado.

É irônico também que tudo ocorra em um momento histórico, no qual volta a ser pauta a patologização das sexualidades diversas da heterossexualidade. Ainda que legitimada em pequena instância, a discussão que parecia ultrapassada retorna junto com movimentos terraplanistas. Não só a sociedade legitima velhos estigmas como a ciência se torna parte de tudo.

Em contrapartida, a luta é cada vez maior. Os milhões que vão às ruas reivindicar que continuemos seguindo em frente. Dos milhões de nós que buscam se livrar de imposições agora tão concretas. Se nunca antes o conservadorismo foi tão abrangente e articulado, nunca antes resistimos tanto. Resistência é a palavra.

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