Depressão na infância e na adolescência é debatida em mesa-redonda
Profissionais de saúde e educação se reúnem nesta terça-feira para discutir tema, que preocupa cada vez mais familiares e escola. Entrada é franca
A dificuldade em lidar com um mundo cada vez mais complexo e conectado não é um desafio exclusivo para os adultos. As cobranças começam a ficar mais fortes também para crianças e adolescentes, que disputam a atenção com telas de aparelhos eletrônicos e, muitas vezes, são sobrecarregadas com a quantidade de informações recebidas pelos mesmos dispositivos. Refletir sobre as questões relativas à saúde mental desse grupo é uma tarefa cada vez mais presente na rotina de profissionais de diversas especialidades e é o objetivo da mesa-redonda: Depressão na Infância e na Adolescência, que acontece nessa terça-feira (26), às 19h, na Sociedade de Medicina e Cirurgia.
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“Temos que pensar sobre o que estamos fazendo de errado. As crianças são estimuladas, superdimensionadas e ficam conectadas o tempo todo. Os pais não têm muita disponibilidade emocional, eles também estão muito conectados e isso tem uma série de consequências. As crianças não brincam mais, como antigamente. Elas conversam por meio de aparelhos, em função disso, ficam mais distraídas, lidam com um volume grande de informações, sendo que nem todas são saudáveis como deveriam ser”, diz a diretora de provimento e saúde da Unimed, Nathércia Abrão.
“Vemos estatísticas alarmantes sobre o aumento constante e agudo de doenças mentais na infância. Uma em cada cinco crianças tem alguma disfunção mental. Houve um aumento de 37% a 40% na depressão entre adolescentes, assim como também aumentou a taxa de suicídios entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos”, reforça Nathércia. Fora a convivência, outros setores da vida são afetados, como a falta de nutrição e o sono adequados.
Há uma complexidade de situações e meios que influenciam as situações. A necessidade de ser bom em tudo, por exemplo, que é reforçada continuamente pela família e pela escola. “Em muitos casos, isso pode não representar nada demais. Mas em uma criança, de maneira particular, pode ser um peso, uma fonte de ansiedade que pode ser insuportável. As crianças não são iguais. Se uma ganha medalhas, pratica e se sai bem em muitos esportes, e a outra não tem aptidão, pode se sentir inferiorizada”, destaca a psiquiatra Elimar Jacob Salzer.
Elimar considera ainda outros elementos, como abusos físicos, traumas, acidentes, redução de capacidades que podem influenciar quadros de depressão infantil e de outras doenças mentais. “Os abusos morais e sexuais são mais frequentes do que se pensa e são muito subnotificados. A criança teme dizer algo e causar um problema. Esse silêncio é muito doloroso e só vai refletir lá na frente. Quando essa pessoa vai conseguir falar a respeito, já é um adulto, que lida com todos os prejuízos.” No entanto, a psiquiatra pondera que o diagnóstico é recente. Os trabalhos mais consistentes na área, segundo Elimar, se consolidaram a partir da década de 1970. “A depressão infantil é uma doença recente, porque achava-se que a criança não tinha problemas emocionais, a ideia era de que elas fossem páginas em branco, sem emocional algum.”
Pensar, identificar, agir
Se no adulto a depressão costuma ser notada pela manifestação da falta de interesse na vida, ou por quadros de tristeza aguda, as mudanças nas crianças seguem por outras vias. “Dificuldades em acompanhar a turma na escola, em se relacionar com as outras crianças, rebeldia, instabilidade emocional, irritação, ansiedade, insônia, pesadelos. Há também uma sonolência persistente, incontrolável. A criança não consegue acompanhar o professor, copiar os assuntos do quadro. Além disso, há dores que aparecem pelo corpo, sem um motivo orgânico e, nas crianças menores, também é comum a volta da enurese, a emissão involuntária de urina e fezes, depois que a habilidade de controle já foi desenvolvida, entre outros sintomas”, enumera a psiquiatra Elimar Jacob Salzer.
Esses quadros podem ser identificados em diversos ambientes, isso reforça a necessidade do atendimento multidisciplinar. O envolvimento de toda a família também é essencial. O atendimento, segundo Elimar, começa na conversa com os pais. Não é raro os pais apresentarem conhecimentos fragmentados sobre os filhos. Uma pergunta simples, como: ‘a criança se alimenta bem?’, pode gerar respostas contrárias. Essa discordância pode indicar uma série de coisas que afeta as crianças. Nessa abordagem, os familiares vão receber mais orientações sobre como lidar com o caso.
Elimar salienta que a criança diagnosticada com depressão deve ser ouvida. “É importante não contradizer o que ela diz sentir, mesmo que as causas sejam psicológicas e não orgânicas. Ouvir com atenção compreensiva, cuidadosa, carinhosa, amiga. Não pode ser demais também, porque ao perceber que determinado sintoma traz algum benefício, ela possa usá-lo para continuar obtendo a vantagem. A linha é muito tênue, então o trabalho precisa ser bem orientado.” Ela reitera a importância de envolver e tratar toda a família.
A Sociedade de Medicina e Cirurgia, onde acontece a mesa-redonda nesta terça-feira fica na Rua Braz Bernardino 59. Centro. O debate terá a participação do pediatra Antônio Aguiar, da psiquiatra infantil Marcia Helena Fávero, da psicanalista Lúcia Britto e da educadora Dea Lucia Pernambuco. A mesa será mediada pela psiquiatra Elimar Jacob Salzer. Interessados no tema podem se inscrever gratuitamente pelo telefone: (32) 98403-7612 (Whatsapp) ou pelo (32) 3249-5547.