Feira promove troca de mudas e sementes em JF
Ação visa estimular o cultivo de espécies e estimular produtores locais e da região. Evento acontece no domingo (24), às 15h, e entrada é gratuita
Um dos caminhos para seguir uma alimentação saudável é se importar com a procedência do que se come. Isto não implica apenas em adquirir produtos em estabelecimentos confiáveis, mas em produzir o próprio alimento. É visando a promoção do cultivo doméstico e a perpetuação das espécies nativas que acontece, neste domingo (24), a primeira edição da Feira de Trocas de Sementes e Mudas, promovida por produtores de Juiz de Fora e região. O evento acontece às 15h, na Praça Antônio Carlos, no Centro, com entrada gratuita.
A única exigência para quem quiser participar, segundo o idealizador da feira, Anderson Andrade, é levar mudas e sementes de flores, frutas, temperos, ervas medicinais, PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), e alimentos nativos do país, conhecidos como frutas do mato. “Não será permitida a comercialização das espécies, mas haverá participantes que irão doar mudas”, explica. O evento busca reunir produtores rurais, ambientalistas, colecionadores de espécies e pessoas que cultivam ou têm interesse em cultivar um pomar e hortas domésticas, tanto em quintais como em vasos.
Mesmo propondo uma volta ao passado, quando as pessoas tinham o costume de trocar espécies com vizinhos e conhecidos, a ideia de promover a feira aconteceu pela internet, por meio do Facebook. “Estávamos espalhados por grupos que tinham temas voltados para plantas e natureza. Fomos trocando os contatos, criamos o grupo no Whatsapp e decidimos criar um encontro aberto para toda população de Juiz de Fora e região”, conta Anderson.
Mais de 200 espécies, entre mudas e sementes, estarão expostas na feira. Entre elas, exemplares nativos e com risco de extinção, como a jabuticaba de cipó, Juçara – o açaí da Mata Atlântica e sementes crioulas que não foram modificadas geneticamente. Boa parte das espécies virá do banco de sementes que está sendo criado por Anderson.
Banco de sementes
A ideia surgiu quando ele ajudou a recuperar uma pequena mata em Bom Jardim de Minas, sua cidade natal, após uma queimada. “Este episódio me incentivou a conhecer mais sobre as espécies frutíferas nativas. Durante a pesquisa, me deparei com um dado assustador: o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas pouco do que produzimos e consumimos são espécies nativas, colocando-as na triste lista de alimentos em risco de extinção. No momento, estou com 30 espécies de frutíferas nativas brasileiras cultivadas, que não é nada comparado com nossa biodiversidade, além das PANCs. Pretendo ir adquirindo conhecimento sobre o manejo destas espécies e estimular seu cultivo de forma sustentável e orgânica pela região. Elas têm grande potencial econômico para pequenos produtores e possuem sabor e nutrientes superiores às estrangeiras”, comenta.
A vez das PANCs
Boa parte de nós está habituada a consumir alimentos comuns, facilmente encontrados nos supermercados. No entanto, pelo menos uma vez na vida, já experimentamos alguma das PANCs disponíveis em nossa biodiversidade. O termo foi criado há dez anos, pelo botânico Valdelly Kinupp. O engenheiro de alimentos, Pedro Henrique Oliveira, explica que o objetivo era desmistificar preconceitos com plantas consideradas “daninhas” e com plantas desvalorizadas. “Temos muitas PANCs espalhadas por aí e consumimos algumas sem saber que são PANCs, como a taioba e a serralha”, aponta.
Contudo, o surgimento das PANCs não é de hoje, pois, segundo Pedro, elas sempre existiram e sempre foram consumidas. Porém, devido à pouca diversidade da agricultura convencional, que limita a dieta contemporânea a poucas espécies como o trigo e arroz, e ao afastamento do homem do contato com a natureza – pelo excesso de urbanização – e, consequentemente da produção de seus alimentos, elas foram sendo, aos poucos, eliminadas do nosso cardápio.
Pedro será um dos participantes da feira, juntamente com sua esposa, a nutricionista Clorisana Abreu. Ela explica que as PANCs são extremamente importantes para a variação da dieta, sendo, muitas vezes, mais nutritivas que os alimentos convencionais. “As PANCs são, em sua maioria, rústicas. Adaptadas ao clima, têm baixa necessidade hídrica e baixa exigência de solo. O agrotóxico não é necessário para seu crescimento, pois ela é adaptada e conta com controle biológico, decorrente de ambientes biodiversos. Em resumo, tem manejo e cultivo fácil e, muitas vezes, atua como agente de controle biológico contra pragas. O odor da flor capuchinha, por exemplo, afasta insetos de hortas”.
As PANCs, segundo a nutricionista, podem ser consumidas de diversas maneiras: refogadas, como a taioba e a serralha, ou cozidas com carne de porco ou frango, como é o caso do ora-pro-nóbis. “Pode-se ainda fazer uso para sucos e chás, geleias, saladas, tortas e o que mais a imaginação mandar”. Apesar de muitas PANCs já terem sido identificadas por botânicos e estudiosos, Clorisana faz um alerta: se você não conhecer a espécie, não se arrisque a comê-la. “Procure sempre uma literatura ou alguém para te orientar. Hoje em dia, nas feiras da cidade, encontramos com muita facilidade muitos exemplares desses vegetais para consumo, como peixinho, taioba, azedinha, serralha, ora-pro-nóbis, fisális, almeirão roxo, capuchinha e hibisco”. Além das PANCs, o casal pretende levar mudas de espécies raras, frutíferas, árvores nativas e em extinção, além de hortaliças, temperos e ervas medicinais.