Tribuna participa de treinamento em áreas de conflitos
Repórter integra grupo convidado para participar no Rio de Janeiro iniciativa em que houve simulação de missão em país fictício
Andar em meio a tiros, passar por terreno minado, entrar em uma câmara de gás lacrimogêneo, ajudar e resgatar feridos graves, comer ração operacional, apagar incêndio e achar a saída em um labirinto escuro com obstáculos e fumaça. Estes foram alguns desafios enfrentados por mim e por outros 38 jornalistas de várias regiões do país, que participaram de um curso de treinamento para atuação em áreas de conflitos em junho. Convidada pelo Exército Brasileiro, a Tribuna representou Juiz de Fora no Estágio Para Jornalistas e Assessores em Áreas de Conflitos (Epjaiac), ministrado pelo Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (Ccopab), na Vila Militar do Rio de Janeiro. Foram cinco dias de conhecimentos práticos e teóricos, em que os participantes foram testados e treinados à exaustão e levados a uma incursão por Carana, país fictício que vive conflito entre grupos étnicos.
Além de instruir os participantes para atuação em conflitos armados fora do país, o curso ajuda os profissionais a trabalharem nas coberturas policiais em suas cidades, como em ocorrências onde os jornalistas estão vulneráveis a ações de bandidos ou mesmo em atos onde há violência.
O coordenador do estágio, major Anderson Félix, destacou que a grade curricular do estágio é montada por uma equipe multidisciplinar, que verifica o que um jornalista precisaria em área de conflito. “Diante deste estudo, foi feito o programa, onde estão as matérias necessárias para diminuir os riscos do profissional de imprensa ao fazer seu trabalho.”
O curso é dividido em duas partes. A primeira é de aulas teóricas. A segunda, prática. “A parte teórica mostra a doutrina, o uso de Forças Armadas e como nós podemos auxiliar o jornalista. A partir do terceiro dia, começam as atividades práticas. Tudo é programado para que você perceba o estresse no organismo e na mente, e, ao final, mesmo com esta condição, consiga concretizar estes ensinamentos” comentou o comandante do Ccopab, coronel Carlos Augusto Ramirez.
Na avaliação do comandante, o estágio promove ganhos às Forças Armadas e aos jornalistas. “Aprendemos a lidar com as características, peculiaridades, potencialidades e deficiências do profissional de mídia. E vocês conhecem um pouco das nossas características, termos específicos e valores que cultuamos.”
Jornalistas contam sobre coberturas
Representantes da chefia da comunicação social da Marinha do Brasil, da Aeronáutica e do Exército Brasileiro passaram aos estagiários valores e missões de cada instituição e como é a relação com a imprensa. Foram ministradas ainda aulas sobre negociação e comunicação durante um sequestro, direitos humanos e direito internacional humanitário e análise e mitigação de riscos em coberturas jornalísticas. Nesta última, os alunos receberam convite da Organização das Nações Unidas (ONU) para fazer uma cobertura em Carana. No documento, a organização discorria sobre a situação caótica do país fictício, que tinha histórico de violência contra jornalistas e problemas na comunicação. Nós, alunos, precisávamos decidir se íamos ou não e, em grupo, apresentar o motivo de nossa decisão.
Ainda dentro do conteúdo teórico, foram convidados para dividir com a turma suas experiências pessoais os jornalistas Ari Peixoto, da Rede Globo, e a repórter Vera Araújo, do jornal O Globo, e o ex-capitão do Bope, Rodrigo Pimentel. Ari Peixoto, que já foi correspondente no Oriente Médio, destacou que “nenhuma matéria, imagem vale a sua vida, ou um ferimento mais sério”.
Experiência de vivenciar uma “guerra fictícia”
Na noite do penúltimo dia do estágio, depois de cerca de 12 horas de aulas, já exaustos e alimentados pela ração operacional usada pelo Exército, fomos levados para Carana, que fica dentro do Campo de Instrução de Gericinó. Foi em terreno que colocamos em prática o que aprendemos nos dias anteriores. Paramentados com colete balístico, que pesa cerca de 15kg, e capacete, pesando 2kg em média, fomos colocados em situações limite, que poderíamos enfrentar em qualquer área de conflito.
Conhecimentos
Com tiros, inimigos nos cercando, pessoas feridas, e, por fim, uma entrevista com representantes da ONU, podemos colocar em prática todos os conhecimentos anteriores e tivemos a confiança de que estávamos capacitados para atuar em áreas conflituosas. Sobretudo, muito além dos conhecimentos didáticos, aprendemos a ter fé na missão, espírito de corpo e disciplina. A certeza é que nunca mais seremos os mesmos depois de voltarmos de Carana. “No combate é que forjam os melhores amigos”.
CCOPAB
O Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) foi criado em 2010, a partir da estrutura do extinto Centro de Instrução de Operações de Paz (CIOpPaz) do Exército Brasileiro, que funcionava desde 2005, no Rio de Janeiro.Também designado Centro Sergio Vieira de Mello – em homenagem ao diplomata brasileiro morto em serviço no Iraque. Em 2003, o Centro especializou-se na preparação e orientação de militares brasileiros designados para operar em missões de paz e humanitárias sob a égide da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, um número cada vez maior de estrangeiros também tem recebido treinamento na instituição.