DenĂșncias de mulheres chegam a quase dez mil
Um homem de 34 anos foi contido com balas de borracha apĂłs espancar a companheira, uma mulher de 40 anos, no Bairro Santa LĂșcia, Zona Norte, no domingo (28). Vizinhos ouviram a discussĂŁo do casal e acionaram a PolĂcia Militar. Quando chegaram ao imĂłvel, os militares encontraram o agressor em ação. Testemunhas teriam tentado contĂȘ-lo, mas tambĂ©m foram agredidas. A mulher espancada estĂĄ grĂĄvida de dois meses. De acordo com os policiais, o homem socava a cabeça da companheira contra o sofĂĄ. Ele estava armado com uma foice e investiu com a ferramenta contra os policiais. Os PMs se defenderam com disparos de balas de borracha, conseguindo imobilizĂĄ-lo no terceiro tiro.
O agressor foi preso em flagrante, enquanto a vĂtima foi encaminhada Ă UPA Norte por conta das pancadas na cabeça e escoriaçÔes em todo o corpo. Um vizinho tambĂ©m precisou ser medicado. O caso Ă© mais um que segue para investigação na Casa da Mulher, instituição municipal criada hĂĄ quatro anos para combater a violĂȘncia contra as mulheres. Baseado nas diretrizes indicadas pela Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, o dispositivo jĂĄ recebeu mais de 9.500 vĂtimas, cerca de seis atendimentos diĂĄrios desde que foi criada, hĂĄ quatro anos. Nesse tempo, a equipe multidisciplinar, que conta com acolhimento psicolĂłgico, assistĂȘncias social e jurĂdica e com o apoio das polĂcias Militar e Civil, viu o nĂșmero de denĂșncias aumentar, assim como o encorajamento da mulher.
“Ă um local para atender a mulher em cinco tipos de violĂȘncia: fĂsica, psicolĂłgica, moral e patrimonial. PorĂ©m nĂŁo existe uma queixa Ășnica. Temos mais violĂȘncia do que os nĂșmeros indicam, porque, quando elas chegam atĂ© nĂłs, geralmente, passaram por uma violĂȘncia fĂsica, mas tem a psicolĂłgica associada. Esse nĂșmero total fala sobre a importĂąncia desse atendimento. Se nĂŁo tivĂ©ssemos a Casa, provavelmente terĂamos mais de 9.500 mulheres sendo violentadas, com a possibilidade de um nĂșmero de feminicĂdios muito maior”, avalia a coordenadora da Casa, Maria Luiza Moraes. Em 2013, de maio a dezembro, foram 1.308 denĂșncias. Em 2014, 1.867. No ano seguinte, 2.231. No ano passado, 6.024, sendo 1.194 agressĂ”es fĂsicas, 2.476 psicolĂłgicas, 352 patrimoniais, 1.804 morais e 198 sexuais. Desde o inĂcio de 2017 atĂ© o dia 30 de abril, 1.043 mulheres foram atendidas.
DĂșvidas e denĂșncias
O prefeito Bruno Siqueira (PMDB) esteve na Casa da Mulher nessa segunda-feira (29) para marcar o aniversĂĄrio de quatro anos do serviço integrado. Ele ressaltou a importĂąncia de divulgar as informaçÔes sobre os atendimentos feitos no local e reforçou que as mulheres devem recorrer ao espaço para tirar dĂșvidas e fazer denĂșncias. Bruno ressaltou que a Prefeitura tem estudado formas de aprimorar o atendimento multidisciplinar das vĂtimas de violĂȘncia domĂ©stica, apontando outros caminhos, como por exemplo, a capacitação para o mercado de trabalho. “A nossa intenção Ă© realmente oferecer essa assistĂȘncia e dar conforto Ă s mulheres da nossa cidade, que tĂȘm essa demanda, de modo que elas achem o apoio que precisam.”
Capacitar vĂtimas e tornĂĄ-las independentes
Em consonĂąncia com a fala do prefeito Bruno Siqueira, a vereadora e delegada de Mulheres, Sheila Oliveira, diz que, com a garantia de capacitação profissional, o enfrentamento Ă violĂȘncia pode ser mais eficaz. “Precisamos implantar polĂticas pĂșblicas nesse sentido, porque sabemos que a dependĂȘncia econĂŽmica Ă© um dos maiores empecilhos para que a mulher agredida deixe de viver com o opressor.” AlĂ©m disso, outros pontos que precisam de melhora sĂŁo: o trabalho para evitar a revitimização dos casos de violĂȘncia sexual e a melhoria no atendimento de meninas que sĂŁo vĂtimas de pedofilia, jĂĄ que hoje nem a equipe da Casa da Mulher, nem a da Delegacia da Mulher contam com um profissional capacitado para tal.
A delegada da Mulher Ăngela Fellet lembrou da dificuldade em dar resposta rĂĄpida a todas as demandas, com a defasagem de pessoal na polĂcia de todo estado como desafio. “Mesmo com essa dificuldade, os policiais vĂŁo mais Ă s ruas, estamos dando resposta, e as pessoas estĂŁo vendo que a repressĂŁo acontece. Isso inibe a ação dos agressores. A Lei Maria da Penha estĂĄ sendo aplicada, ela Ă© eficaz, e as mulheres se sentem mais seguras para denunciar.” Ela lembra que Ă© fundamental ir alĂ©m do registro da ocorrĂȘncia. “Para que algo seja feito, de fato, elas precisam comparecer Ă delegacia e fazer a representação.