“Esta é a Maria. Este é o João. Crianças deste nosso mundão.” É dessa maneira mesmo, como se estivesse conversando com uma plateia repleta de meninos e meninas, que a escritora Dalila Roufi apresenta a dupla de protagonistas do livro “Será medo?” (Funalfa Edições, 32 páginas). “São crianças que vivem a infância com vivacidade, alegria e brincar, do jeito que a criança gosta, merece e necessita. Com características únicas e semelhantes, elas vão se tateando, tateando o outro e o mundo. Não se sabe ao certo se a Maria e o João são parentes, vizinhos ou conhecidos. O que se sabe é que eles moram numa cidade grande, são de uma época recente e têm preferências em comum, como aprender, somar, vasculhar. Tentei trazer, na história, justamente essa singularidade e a pluralidade de ser criança. Eles representam a infância de toda a garotada”, explica a autora.
Lançada oficialmente no último sábado com incentivo da Lei Murilo Mendes, a publicação é a décima da escritora, que contabiliza mais de uma década de trabalho dedicado às palavras. A primeira obra nasceu em 2006 e, desde então, Dalila percorre escolas de Juiz de Fora e de outras cidades com o projeto “Eu vou contar o que escrevi.” “Minha meta é lançar um a dois títulos por ano. Já tenho vários livros prontos, doidos para serem publicados, mas tudo vem com calma, vem a seu tempo.”
“Será medo?” promete encher os olhos dos leitores mirins não só pelo texto cativante de Dalila, mas também pelas ilustrações do músico, professor e designer Alexandre Marinho. Ele é só cores, é mágico, é um convite a um universo onde a alegria está na bola, no carrinho, na boneca, no pião, na peteca, no gibi e no livro, e não no tablet e no celular. A obra pode ser adquirida diretamente na página da autora: www.dalilaroufi.com
Marisa Loures – João e Maria brincam de verdade, correm, cantam, dançam, e a criança de hoje prefere os eletrônicos. Assim como em outros livros seus, essa história traz uma mensagem que ultrapassa o simples entretenimento…
Dalila Roufi – Sou uma autora que trabalho com várias possibilidades de temas, mas sempre me vejo nessa questão que você falou. É a vivência, é o conhecimento de mundo que tento trazer, colocando a criança como centro das minhas histórias. Tento imaginar como ela pensa, o que ela quer ler. Acho que é um pensamento que tem dado um efeito legal, porque são muitas escolas que adotam meu livro, trabalham em cima da minha literatura.
– O João e a Maria querem o que é deles e o que é do amigo também. Eles querem experimentar de tudo. Esse livro nasceu a partir de alguma experiência pessoal?
Esse livro era uma poesia, um versinho muito pequenino, que ficou parado por muito tempo. Como dizem que a obra conversa com o leitor e o leitor com a obra, de uns tempos para cá, ele conversou comigo: “quero crescer, quero virar história”. Então, esse versinho acabou se transformando num livro, e é uma leitura bem gostosa.
– Se esse livro não fosse publicado pela Lei Murilo Mendes, você o publicaria de maneira independente. Como é ser uma escritora independente, não ter uma grande editora por trás?
– É um trabalho que comecei há dez anos com muita garra e determinação. Se eu não tivesse a oportunidade de estar com esse livro pela lei, que é um privilégio, um incentivo muito bom, estaria publicando por minha editora, como pretendo publicar um outro ainda este ano. É um livro que já está pronto, com as ilustrações já definidas, só esperando para ser lançado. Procuro ver sempre do lado otimista. Se a gente falar que é difícil, tudo na vida é difícil. Acho que há pessoas que nasceram reclamando. “É difícil, é difícil, é difícil”. Acredito no meu trabalho. Se não acreditasse, não teria dado o primeiro passo, porque, quando lancei o primeiro, não conhecia ninguém, não tinha referência como escritora. Apostei na ideia e fui vencendo os obstáculos. São meus erros e minhas falhas que me fazem mais forte, que me fazem continuar. É um trabalho que vale a pena, e eu gosto do que faço.
– Seus livros são adotados por colégios da cidade, e você tem um projeto que leva histórias para as escolas. Quando você escreve, pensa em como sua obra pode ser um instrumento para auxiliar na educação?
Sempre a gente pensa um pouquinho, mas meu foco não é esse. Meu foco é motivar a criança a ler. Tenho batido bastante nessa tecla nas escolas e nas entrevistas que tenho dado: o adulto tem que mostrar para a criança que o livro é um dos melhores brinquedos que podemos dar a elas. Temos que tirar essa obrigação do livro como leitura só em sala de aula, como imposição. Quando escrevo, tento colocar textos que eu imagino a criança lendo, gargalhando, sorrindo, chorando, e que ela se sinta dentro da história.
– É claro que você acompanha a produção literária infantil. Como você vê esse mercado em âmbito local e nacional? Tem muita oferta, mas a qualidade acompanha essa oferta?
Há obras literárias para todos os gostos e temos que respeitar todos os gêneros, todos os tipos de autores e leitores. Tem gente que vai pegar um livro meu e vai amar. Há pessoas que me seguem, têm todos meus livros. Já há outras que não vão gostar de lê-los, assim como não vão gostar ou vão gostar de outros autores. Tem campo para todos, e os pontos positivos e negativos se estendem em nível local e nacional.
“Será medo?”
Autora: Dalila Roufi
Editora: Funalfa Edições, 32 páginas