InfluĂȘncias globais sem perder a identidade
Projetos como a revitalização da Marina da GlĂłria, que ainda nĂŁo foi executada, trazem a brasilidade, mais especificamente, a carioquice, por explorarem de forma leve e sinuosa a paisagem do Rio de Janeiro. Ă o que afirma o arquiteto e urbanista Indio da Costa, que fala sobre seu trabalho e seu livro “Ar como arquitetura” na entrevista a seguir.
Tribuna – Como vocĂȘ avalia os caminhos da arquitetura e do design brasileiros?
Indio da Costa – Num mundo globalizado, a arquitetura e o design sofrem influĂȘncias internacionais muito fortes. Acho que o nosso grande desafio Ă© usar estas influĂȘncias de forma adequada, preservando a nossa identidade cultural. Tanto o design quanto a arquitetura estĂŁo mais atentos Ă s soluçÔes ecologicamente corretas e sustentĂĄveis, o que faz com que surjam novas e mais criativas soluçÔes. AlĂ©m disso, os novos instrumentos de trabalho, atravĂ©s de computação grĂĄfica, programas cada dia mais sofisticados e mĂ©todos construtivos mais modernos, nos possibilitam ousar com formas diferenciadas.
Existem aspectos que determinam um estilo legitimamente brasileiro?
Certamente. As nossas raĂzes culturais se fazem presentes nos nossos trabalhos que, sem desprezar influĂȘncias do mundo inteiro, as filtram e adaptam Ă nossa realidade. Um brasileiro nĂŁo consegue sentir e se expressar como um sueco, por exemplo, e isto, felizmente, estĂĄ refletido no trabalho de cada um de nĂłs, garantindo longevidade dos aspectos culturais de cada paĂs, alĂ©m da originalidade e da personalidade de cada um.
VocĂȘ incorporou a seus projetos referĂȘncias de outras localidades do mundo. O que o Brasil jĂĄ exportou na sua visĂŁo? Qual a importĂąncia deste intercĂąmbio?
O Brasil jĂĄ foi exportador de arquitetura na fase modernista, atravĂ©s, principalmente, de Oscar Niemeyer. Muitos arquitetos, como Zaha Hadid, se declararam influenciados pela arquitetura de Niemeyer. Portzamparc declarou sua admiração e possĂvel influĂȘncia pelo trabalho de Affonso Reidy, alĂ©m de diversos outros. No momento, entretanto, vejo, com muita pena, uma influĂȘncia mais forte no sentido inverso: do mundo para o Brasil.
Como os aspectos urbanos e naturais influenciam na arquitetura de uma cidade? O que deve ser considerado?
A boa arquitetura tem um forte compromisso com o seu entorno e a Ă©poca em que estĂĄ sendo concebida. Assim, o que Ă© adequado para o Rio de Janeiro, que tem uma natureza especial, forte e muito presente em todos os seus bairros quase sempre nĂŁo se encaixa corretamente em outra paisagem urbana. Ă preciso respeitar o local onde serĂĄ inserido o objeto arquitetĂŽnico. Dentro do meu trabalho, dois exemplos muito claros disso sĂŁo: o projeto da Marina da GlĂłria, cuja solução formal sĂł se encaixa corretamente naquele local especĂfico, e o do Parque do Flamengo e o do Rio PanorĂąmico, projeto que propĂ”e um circuito de telefĂ©ricos ligando o topo de alguns dos principais morros da Zona Sul da cidade, valorizando um aspecto marcante da experiĂȘncia carioca: a paisagem extasiante.