Os crimes violentos e a cidade


Por Juliana Netto

02/04/2017 às 07h00

Um estudo divulgado na Tribuna, na última semana, busca comprovar a relação entre a criminalidade crescente e a ausência de infraestrutura adequada em uma região, ou seja, a falta de equipamentos públicos dentro de um programa habitacional. O levantamento tem como objeto de estudo o Condomínio Parque das Águas, construído com recursos do programa Minha Casa, Minha Vida, em Juiz de Fora. As casas foram entregues às famílias em 2012, e, de lá para cá, foram vários os episódios de crimes violentos registrados no local, que abriga 565 casas.

Apesar de o estudo ainda estar na primeira etapa e de as pesquisadoras ainda não terem ouvido os moradores, sabemos que a cidade é local de conflitos, mas eles se tornam ainda maiores quando os cidadãos percebem que os direitos sociais não aparecem na mesma proporção que os deveres. Ou seja, pesa-se na balança a precariedade das condições de vida, a falha da presença do Estado em determinada região em detrimento de outras onde ele aparentemente estaria mais presente com seus aparatos. Vários autores apontam que, quando áreas começam a se mostrar violentas, é preciso encontrar meios de intervir com equipamentos públicos, que vão desde a iluminação adequada até a existência de transporte frequente, presença de escolas e projetos culturais e de lazer.

Neste caso, criar mais aparatos de vigilância, com reforço de agentes policiais e cercamento, não seria a solução, pois só criaria mais pacto de hostilidade. Então, em vez de olhar para aquela região chamada de violenta como uma área que precisa ser ainda mais policiada, é preciso pensar este lugar, observar se o espaço público ali está silenciado, sem ocupação, sem sociabilidade. Em muitos grandes centros, regiões chamadas de zonas quentes de criminalidade acabam sendo separadas das outras por muros, como se de um lado estivessem os bons e, do outro, os maus. No entanto, ao fazer isso, só há uma repressão do problema, que vai continuar existindo. Melhor que construir muros é buscar pensar uma cidade em que os espaços públicos sejam mais planejados e os direitos mais igualitários.

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