‘Legion’: Série estranha com gente esquisita

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

Eu já perdi a conta das séries de TV inspiradas em histórias em quadrinhos que, ao lado dos filmes do gênero, são capazes de fazer com que não sobre tempo para mais nada. Mas como também gostamos de outras coisas (“The man in the high castle”, “Veep”, “Vikings”, “The americans”, ler, passear, ficar com o filho, ouvir música, assinar apólices complicadas), damos um jeito de reduzir a lista: “Agents of S.H.I.E.L.D.”, “Lucifer”, “Preacher”, “Luke Cage”, “Jessica Jones” e chega. Ou quase. Sempre tem coisa nova chegando, “Punho de Ferro”, “Justiceiro”, “Powerless” e “Os Defensores” vêm aí e “Legion” já estreou, e posso garantir que o ah migo leitor e a ah miga leitora terão que reorganizar sua agenda. E por qual motivo, razão ou circunstância? A série consegue ser o famoso ponto fora da curva entre o que vem sendo feito no gênero.

Às explicações, ora pois. A produção fez sua estreia na última quinta-feira no FX e tem como personagem principal o nada famoso David Heller, conhecido basicamente pelos fãs mais ardorosos dos X-Men. Criação de Chris Claremont e Bill Sienkiewicz, o rapaz é filho do Professor Xavier com a israelense Gabrielle Heller, que escondeu do telepata careca que havia ficado grávida. Conhecido como Legião, David é um mutante classe ômega com poderes telepáticos, psiônicos e outras bossas, além de apresentar problemas psiquiátricos como múltiplas personalidades. Vida nada fácil.

Mas o criador da série, Noah Hawley, tratou de colocar “Legion” bem longe do universo cinematográfico dos X-Men e da futura série dos Filhos do Átomo, o que dá para perceber no episódio piloto da atração. Do que conhecemos dos quadrinhos, restou o fato de Heller ter poderes mentais cabulosos e os transtornos psiquiátricos. Por isso, é melhor não esperar que o Wolverine ou a Jean Grey deem as caras no seriado – o que é ruim. Mas isso também quer dizer que a Jubileu deve ser ignorada – e isso é muito bom.

Mesmo trabalhando com tão pouco, o primeiro episódio foi promissor, ainda que não entregue muita coisa a respeito de toda a trama da série. David Heller está em uma instituição psiquiátrica após ter surtado pela enésima vez, sendo diagnosticado com esquizofrenia. Lá ele convive com outros pacientes, inclusive uma loirinha por quem se apaixona mas que não é muito a fim de contato físico, e percebe que um monte de coisas estranhas acontecem ao seu redor. Aí acontece o tradicional “alguma coisa vai dar errado” e David foge do manicômio, sendo perseguido por uma organização que não sabemos se é do governo ou privada, mas que definitivamente é do mal. Ao mesmo tempo, conhecemos uma galera do bem disposta a ajudá-lo.

É difícil acreditar que a equipe de produção consiga manter o mesmo pique cinematográfico nos próximos episódios, mas “Legion” tem um piloto muito bem feito capaz de deixar o telespectador curioso para saber o que vem em seguida. Noah Hawley entrega uma história cheia de nuances, com pequenas peças que se encaixam com outros fatos à medida que a história se desenrola, idas e vindas temporais que ajudam a aumentar o mistério, trilha sonora espertinha e um visual radicalmente diferente das séries de heróis que vemos por aí, que deve fazer os olhos da galerinha hipster brilhar de alegria. Em alguns momentos chega a entrar na categoria “o que aconteceria se Wes Anderson dirigisse um filme dos X-Men?”.

Para a receita dar certo, porém, é preciso ter um elenco que corresponda às pretensões, e nisso “Legion” também se garante. O destaque principal, claro, fica para Dan Stevens, que interpreta um David Heller que oscila entre a sanidade e a completa confusão mental. Ele sabe ser engraçado, surtado ou dramático quando o momento exige, e faz do personagem uma pessoa que sabe que tem alguma coisa muito errada – tanto com ele quanto com o mundo.

Para quem procura por algo diferente, “Legion” é a pedida da semana.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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