Gente como a gente? Ah, gente
Oi, gente.
Juro para meus ah migos leitores e ah migas leitoras que adoraria já ter assistido a todas as três temporadas de “Black mirror” para (talvez) concordar com a humanidade que a série é tudo isso que estão falando, mas ainda estou lááááááá no terceiro episódio. “Westworld” sequer chegou à metade, e “The man in the High Castle” entrou num inexplicável limbo, fruto da equação falta de tempo+ter que esperar pela Leitora Mais Crítica da Coluna=rever suas prioridades, sendo prioridade=qualquer episódio que dure, no máximo, meia hora.
E é essa matemática que junta trabalho, compromissos cotidianos, passeios com Django e exercer a paternidade que nos fez optar pela opção mais fácil: fechar em velocidade de dobra os oitos episódios da primeira temporada de “Easy”, mais uma série moderninha oferecida pela Netflix. Criação do ator e produtor Joe Swanberg, ela segue uma tendência em alta lá pelas bandas dos Estados Unidos: as produções que buscam retratar gente como a gente em situações cotidianas.
No geral, a ideia até que é bem realizada, porque a maioria dos episódios mostra situações que poderiam acontecer com qualquer um. Com exceção de um Orlando Bloom aqui e aquele Dave Franco ali, quase todos os atores são pouco conhecidos e com aquela cara de gente que encontraríamos na fila do pão, domingo de manhã, vestindo um moletom. Para reforçar a ideia de hipernaturalismo, os episódios de “Easy” não se prendem à necessidade de apresentar um desfecho, logo os finais são do tipo “vamos ali no dentista que hoje acordei pensando em você”.
Todas as histórias se passam em Chicago, e eventualmente dá para perceber que elas possuem alguma ligação, com alguns personagens aparecendo em outros capítulos e mais algum easter egg perdido pelas cozinhas. Algumas tramas são bem legais, como a do casal que percebe ter entrado numa rotina em que o sexo precisa ser “agendado”; da guria que resolve encarar o veganismo só para impressionar a namorada; a atriz que precisa decidir se termina de vez com o namorado e aceita um papel numa série de TV na Califórnia; e o casal que resolve arriscar um ménage após descobrir o Tinder. A mais chatinha de todas é a dos irmãos que montam uma cervejaria clandestina, e é justamente a única história que ganhou uma continuação – inclusive fechando a temporada.
Ainda que não revolucione coisa alguma na televisão, “Easy” é uma boa opção para quem não quer ficar refém de séries com tramas que se arrastam por semanas a fio, e que duram o tempo de mandar ver aquele rango esperto, a sobremesa e depois lagartear pelo sofá/cama. Com o perdão do trocadilho, “Easy” é fácil de assistir.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.