Mobilidade e participação


Por MARCOS JOSÉ ORTOLANI LOUZADA Colaborador

18/10/2013 às 07h00

Em junho de 2013, o Brasil foi abarrotado por uma onda de manifestações populares. Na sua origem, havia uma questão de mobilidade urbana, e os jovens de São Paulo demandavam o passe livre. A repressão policial motivou a propagação deste movimento pelo Brasil, ampliando também suas bandeiras. Por mais difusas que parecessem, todas representaram anseios reais da sociedade. A mobilidade urbana foi um dos temas mais frequentes, inclusive, e, sobretudo, em nossa cidade, Juiz de Fora. Daí se depreende a importância de nos aprofundarmos neste debate.

A Prefeitura de Juiz de Fora contratou uma consultoria para estudar o transporte público e, a partir daí, traçar um diagnóstico geral sobre os serviços prestados. A iniciativa é boa, decisões corretas passam pela correta observação do problema. No entanto, dada a complexidade do tema, entendo que a população deveria ter um papel mais efetivo e expressivo neste processo.

A mensagem das ruas mostrou que o povo precisa e deseja ser ouvido pelos nossos governantes antes que eles decidam sobre as políticas que afetarão a vida da sociedade. O tema mobilidade urbana é muito amplo, não se limita a uma questão de qualidade do transporte público ou a uma otimização meramente operacional. Existem vários debates entrelaçados, como o modelo de financiamento público ou privado, o incentivo aos transportes alternativos como as bicicletas e até os transportes sobre trilhos, a limitação ou não da construção de novos edifícios-garagem no Centro, a adesão ou não ao rodízio de placas, a ampliação do número de táxis, a ampliação das vias de acesso rodoviário, o esgotamento da capacidade de fluxo de automóveis em algumas vias, horários e locais, o planejamento para a integração dos bairros da periferia ao Centro, a implantação de BRTs e por aí vai. Ou seja, são muitos os assuntos que envolvem conceitos fundamentais para o exercício de uma cidadania plena; trata-se de um debate sobre a ocupação e o uso do território do município. Dadas sua amplitude e sua complexidade, acredito que a totalidade do tema fuja do escopo do estudo de uma consultoria.

Longe de querer questionar a capacidade técnica de uma consultoria em diagnosticar e propor soluções para a questão da mobilidade urbana em Juiz de Fora, muito menos de duvidar da necessidade de tal estudo, pelo contrário. Apenas alerto que a falta de uma discussão mais ampla pode afetar o sucesso de boas iniciativas, como ocorreu com o transporte multimodal em Juiz de Fora. Seria muito rico para este processo se nossos vereadores, ou o próprio prefeito, chamassem uma Conferência municipal de mobilidade urbana e, a partir dela, construíssem uma plataforma social amplamente discutida que serviria de base para o encaminhamento das políticas públicas. Seria uma ótima resposta dos nossos políticos aos legítimos anseios populares manifestados nas ruas de que é possível institucional, legítima e legalmente melhorar a vida da sociedade através da política.

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