#ForçaChape

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

Uma das questões que considero fundamentais para escrever esta coluna é ser honesto com os leitores quanto às minhas opiniões e sentimentos. Ou pelo menos tentar. Elogiar o que gostei, criticar o que considerar ruim, mas sem pesar ou aliviar a mão por qualquer motivo. Uma vez que toda opinião sempre será parcial, que pelo menos ela não me envergonhe hoje, amanhã ou daqui a cinco anos.

E é com essa sinceridade que confesso, ah migo leitor, ah miga leitora: não estou com vontade alguma de escrever a coluna desta semana. Não quero falar de música, ou cinema, quadrinhos, seriados ou qualquer assunto que gire em torno do universo cultural. Chega, pelo menos por hoje.
Ou melhor: não é “não querer escrever”. É não haver clima, tesão para tanto. É ter a impressão que comentar o que quer que seja, que a série “X” é legal, ou que determinado disco vai mudar sua vida, parecerá completamente inútil, desprovido de qualquer sentido. Porque esta terça-feira, definitivamente, não é dia para se ignorar o que se passa além do nosso mundinho.

A coluna é sobre cultura, mas ainda somos seres humanos, carregados de empatia, e é impossível não se emocionar, ser solidário à tragédia que se abateu sobre a equipe da Chapecoense, seus torcedores, os moradores de Chapecó, os tripulantes do avião, os colegas da imprensa que morreram no trágico acidente na Colômbia. Não é uma questão de esporte. É uma questão de humanidade.

É triste, absurdamente triste, de dar um nó na garganta durante todo o dia, receber as notícias da tragédia. Do jogador que ficou noivo há poucos dias, o companheiro que se foi com um filho ainda bebê. De um elenco com jogadores pouco conhecidos, a maioria sem passagem por qualquer grande clube, que estavam tão felizes por terem a chance de conquistar um título internacional, ainda por cima por um clube de médio porte.

Não podemos esquecer dos colegas de profissão: para alguns, apenas mais uma final de campeonato entre tantas; para outros, em especial os radialistas de Chapecó, talvez o grande momento profissional de suas carreiras. A sensação de que aquele clube que acompanharam por tantos anos, inclusive nos campos esburacados da Série D do Brasileiro, poderia conquistar um campeonato internacional. Sei disso por conviver durante tantos anos com colegas como o nosso Marcos Moreno, narrador da CBN, que pôde comemorar a ida do Tupi para a Série B em 2015, ou o incansável Manoel Alves, do “Diário do Vale” em Volta Redonda, um verdadeiro apaixonado pelo Voltaço.

E o que dizer da dor dos parentes? E dos moradores de Chapecó? São pouco menos de 200 mil habitantes que, hoje, precisam lidar com uma dor inimaginável. Caso raro de cidade que realmente abraçou o time, vestiu a camisa, tinha orgulho da agremiação que representava a cidade nos gramados do país e exterior, e que agora vê o sonho tornar-se o dia mais triste de sua terra.

Para não dizerem que não falamos de cultura, os acontecimentos desta terça-feira me lembraram de outra tragédia semelhante que chegou aos cinemas em 2006. Dirigido por McG, “Somos Marshall” é a história do acidente de avião, ocorrido em 14 de novembro de 1970, que resultou na morte de 112 pessoas, incluindo 75 jogadores de futebol americano da Universidade Marshall, o técnico, outros integrantes da comissão técnica e torcedores que acompanhavam a equipe. A tragédia devastou a alma da cidade, que atualmente possui cerca de 50 mil moradores, obviamente ainda menos naquela época; todo mundo conhecia alguém que morreu na queda da aeronave.

A universidade chegou a cogitar a suspensão do programa de futebol, mas os moradores, estudantes e jogadores que não viajaram se mobilizaram para que o time não deixasse de existir. Seria como apagar a própria alma. Foi preciso montar uma nova equipe, recrutar um novo técnico, mas Marshall resistiu: venceu a primeira partida disputada em casa, demorou cerca de 20 anos para conquistar novamente um título, mas não deixaram o sonho morrer. É aquele filme que – apesar de poder render muito mais com um diretor melhor – consegue mesmo assim emocionar o espectador, arrancar aquela lágrima que você teima em segurar toda vez que assiste ao final do longa.

Por enquanto é só, pois o dia não permite outro sentimento que não a tristeza.

Somos Chapecoense. #ForçaChape.

Júlio Black

Júlio Black

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