Outras ideias com Mônica Resende
Uma grande história cabe em qualquer canto. Ou num espaço semelhante a um corredor. Dezesseis metros de profundidade, aproximadamente, com metade para o público, outra metade para a cozinha. Uma grande história cabe numa coxinha de galinha com Catupiry. Ou num cigarrete comprido, inteirinho de queijo. “Isso daqui é deste tamanho desde que abri”, ri Mônica Resende, 61 anos. O acolhimento mora num sorriso largo. Tudo parece íntimo na Pipita. Os bancos de madeira, à direita da vitrine, confirmam. “A Pipita sobrevive do carinho. Não tem segredo. Tentamos manter o mesmo padrão de quando abrimos. A loja é a mesma. O teto é o mesmo, os banquinhos, também, mas serão mudados. Penso em reformar, mas falta coragem”, conta a empresária, apontando para o chão, onde antes existia um carpete, uma das poucas alterações do lugar que, a despeito do tamanho, tornou-se grande na cidade.
A coxinha é a mesma? “A gente tenta, mas os insumos mudaram muito. O Catupiry é desde quando abri. Vi o senhor Hélio, que já morreu, fazendo o Catupiry em São Paulo”, responde ela, para logo mostrar o certificado da marca com o registro de número zero. “Todo mundo que usa requeijão coloca ‘coxinha com Catupiry’, ‘pizza com Catupiry’, ‘pão de queijo com Catupiry’. Na maioria das vezes é requeijão, porque Catupiry é uma marca. E eles (o laticínio) resolveram testar todo mundo que trabalhava com Catupiry mesmo, fazendo um certificado. O primeiro foi o meu”, lembra a mulher que conhece os clientes mais assíduos e se dispõe a acolher os mais recentes. O aconchego, sim, cabe numa grande história.
Vinis e chocolates
A grande história que Mônica escreveu fritando coxinhas começou quando apostou. “Trabalhei numa firma que chamava Atel por quase oito anos. Comecei vendendo discos, com 17 anos, depois fui para a seção de decoração. Saí quando resolvi abrir um negócio meu. Abrir o que em Juiz de Fora?”, recorda-se. “Resolvi ter uma Kopenhagen, que aqui não tinha. Trabalhamos com eles por 24 anos. Foi um sonho de ter uma loja de bom chocolate. Viver só disso, há 37 anos, era como pedir esmola para dois”, ri. “Em Belo Horizonte tinha uma loja que se chamava Doce Docê, a primeira loja com coxinha de galinha com Catupiry. Eu adorava e resolvi que tinha que ter as duas coisas juntas. O senhor Jaque, dono da Kopenhagen, me autorizou a ter a loja com salgado, numa época em que não havia as franchisings.” Por dois meses, Mônica testou a própria receita de coxinha, feita sempre na mesma hora, e resgatou o paladar da infância para outros salgados.
Massas e varais
“A empada é receita da minha mãe. O cigarrete ela fazia para a gente quando éramos pequenos. Nesse mesmo formato, há 50 anos. Minha mãe fazia massa em casa”, lembra Mônica, contando dos varais onde a mãe, descendente de alemães, estendia massas e mais massas para os almoços. “Ela fez cigarrete e empada para a Pipita por uns 15 anos, mas teve artrose, e o médico a proibiu”, completa a empresária, que tentou, por duas vezes, ampliar o projeto, mas descobriu que uma grande história não caberia em outros lugares. “Tem cliente que diz que se eu mudar daqui, não vem mais. Já tive duas lojas e fechei as duas”, diz, referindo-se à da Galeria Bruno Barbosa, que durou menos de dez anos, e a de São Mateus, uma gigante que não resistiu aos frequentes assaltos. “Todo mundo queria uma Pipita sentada, eu também. Abrimos uma loja com 60 lugares. Desmanchei um apartamento atrás e fiz a cozinha dos meus sonhos. Mas 2h da manhã o alarme tocava: tinham entrado na loja. O prejuízo foi mais a decepção”, lamenta ela, que já teve um buffet também e diferentes trailers. A grande história começou na rua.
Churrasquinho e hambúrguer
“O Rango’s começou como um trailer feito em folha de zinco, na esquina da Rio Branco com a Espírito Santo. Depois foi para a frente da Santa Casa, quando a Prefeitura baixou uma ordem de que não poderia haver trailers na rua. Já tinha o Murilão, o Kako e muitos outros. Eu saía da Pipita às 19h, o Rango’s já estava aberto desde às 17h e saía de lá às 2h da manhã. Minha filha cansou de dormir num balaio no escritório”, recorda-se a mãe de Carolina. Mônica fechou o negócio de lanches, já num agigantado lote e construído em alvenaria, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Dr. José Cezário, há 26 anos. Antes, porém, também teve um trailer de churrasquinho e hambúrguer, o Churras. “Era uma época em que não comíamos na rua como hoje. Não existia o hábito. Quando abri a Pipita, existia a Polar, que tinha um sorvete maravilhoso e um folhado dos deuses, A Doceira, a Fábrica de Doces Brasil, a Lojas Americanas, que vendia sanduíches, o Café Apolo e poucos outros. Eram poucas as lanchonetes”, pontua a irmã de Ricardo, que de seus 54 anos, 30 se passaram no trabalho da pequena loja da irmã, assim como Cláudia Silva, uma das oito funcionárias do espaço, que há 21 anos vê as coxinhas chegarem à estufa e logo serem mordidas, com a fumacinha saindo do recheio. Uma grande história sempre será fresquinha.