Movimentos populares
Em fim de outubro passado, realizou-se no Vaticano o primeiro Encontro Mundial de Movimentos Populares a convite do Papa Francisco. Encontro histórico, pois é a primeira vez que um Papa acolhe dirigentes de movimentos populares de diversas confissões religiosas para debater os problemas sociais que afligem o mundo de hoje. O Papa quer ouvir diretamente os que sofrem sobre as causas que produzem tanta miséria e morte.
No discurso de encerramento, o Papa expressa sua alegria, agradece os presentes pela aceitação do convite e realça a importância do acontecimento: “Este encontro de Movimentos Populares é um sinal, é um grande sinal: vocês vieram colocar na presença de Deus, da Igreja, dos povos, uma realidade muitas vezes silenciada. Os pobres não só padecem a injustiça mas também lutam contra ela! Não se contentam com promessas ilusórias, desculpas ou pretextos. Também não estão esperando de braços cruzados a ajuda de ONGs, planos assistenciais ou soluções que nunca chegam (…). Vocês sentem que os pobres já não esperam e querem ser protagonistas, se organizam, estudam, trabalham, reivindicam e, sobretudo, praticam essa solidariedade tão especial que existe entre os que sofrem, entre os pobres, e que nossa civilização parece ter esquecido ou, ao menos, tem muita vontade de esquecer”.
O Pontífice prossegue explicando o que é a verdadeira solidariedade. “Ela é pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. Também é lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra e de moradia, a negação dos direitos sociais e trabalhistas. É enfrentar os destrutivos efeitos do império do dinheiro: os deslocamentos forçados, as migrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a guerra, a violência e todas as realidades que muitos de vocês sofrem e que todos somos chamados a transformar. A solidariedade, entendida em seu sentido mais profundo, é um modo de fazer história, é isso que os movimentos populares fazem. (…) Este encontro nosso responde a um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho. Não se entende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, teto e trabalho – isso pelo qual vocês lutam – são direitos sagrados”.
Em seguida, o Papa se detém sobre cada um destes temas numa linguagem simples e direta, acrescentando a paz e a ecologia e aproveita a oportunidade para revelar: “Talvez vocês saibam que eu estou preparando uma encíclica sobre ecologia; tenham a certeza de que as suas preocupações estarão nela”. Infelizmente, não temos hoje espaço para resumir suas palavras. Ao menos que o gesto do Papa nos ajude neste tempo da quaresma a viver a alegria do anúncio da Boa Nova de Natal!