OS INTOCÁVEIS
O pedido de prisão de quatro cardeais do PMDB, com grande rodagem na política brasileira, foi uma ação ousada do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mas ainda não se sabe se foi a mais sensata para o momento, pois, embora aponte para a não existência de intocáveis nas investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, coloca em xeque a relação de poderes: o Supremo Tribunal Federal vai bancar a prisão de José Sarney, ex-presidente da República; Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara Federal; Renan Calheiros, presidente do Congresso, e Romero Jucá, ex-presidente do PMDB?
O relator do STF, Teori Zavascki, pode até jogar a bola para o plenário, para evitar uma decisão monocrática, mas, seja qual for, estará diante de um impasse. Se recusa o pedido, as ruas irão protestar; se manda prender, pode desestabilizar as instituições. Esse imbróglio, certamente, irá pesar, uma vez que, em jogo, a essa altura do campeonato, estão outras questões, como o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a própria cassação do presidente da Câmara.
A reação indignada do ministro Gilmar Mendes, questionando duramente o vazamento, é emblemática da pressão que se jogou para o Judiciário. O STF, até então moderador do jogo político que se instalou em Brasília, está sendo provocado a decidir sobre o futuro da própria operação Lava Jato, matriz de todo esse novo cenário. Por conta disso, é provável que o relator estique os prazos e peça ajuda aos colegas, mas tem que tomar, se não for agora, uma decisão.
O país chegou a um estágio em que não há mais volta. Ir adiante nas investigações pode gerar novos impasses, mas abortar todo o trabalho feito até agora é bem pior. A lição que se tira é que o atual modelo político se esgotou, algo que o Congresso não viu até agora, preferindo fazer reformas pontuais – na sua maioria de viés eleitoral – quando se exige muito mais do que isso.