Respect my Authority

Por Júlio Black

Oi, gente. “Batman Vs. Superman: A origem da Justiça” ainda rende assunto para mais de metro, que vai da (falta de) qualidade do filme à eterna discussão sobre o suposto “destruction porn” promovido pelo diretor Zack Snyder desde “O Homem de Aço”, em que Superman e o General Zod transformam Metrópolis em farofa durante a batalha final. Nunca entendi muito bem essa revolta, pois era o tipo de destruição megalomaníaca que eu esperava desde a evolução dos efeitos especiais. Pois todo esse nhém-nhém-nhém nerd serviu para me lembrar que estava a fim de escrever sobre o Authority, supergrupo que voltou às bancas no primeiro volume da série de encadernados que serão publicados pela Panini.

Para quem ainda não conhece, a série foi criada por Warren Ellis (roteiro) e Bryan Hitch (desenhos) no final do século passado a partir dos escombros de outro super grupo, o Stormwatch. A principal característica da equipe é ser uma espécie de “Liga da Justiça REALMENTE Sem Limites”: para realizar aquilo que considera ser o seu trabalho – defender a humanidade de qualquer tipo de ameaça -, o Authority não tem medo de impor sua visão de mundo, ignorando a soberania das nações, leis internacionais e a diplomacia de luvas de pelica. Para eles, fazer omelete quebrando os ovos é a regra, e não a exceção, então é normal ver metrópoles transformadas em terras arrasadas após as batalhas do grupo – com o diferencial de que eles sempre tentam salvar a população.

Os dois primeiros arcos desenvolvidos pela dupla Ellis/Hitch estão presentes no encadernado. O primeiro deles, “O Círculo”, mostra o Authority tendo que enfrentar os clones vitaminados do misto de ditador/terrorista Kaizen Gamorra, que devastaram Moscou e são confrontados em Londres e Los Angeles, com a devida destruição a reboque. O segundo volume, “Transnaves”, mostra a Terra em geral – e Los Angeles, tadinha, em particular – sendo invadida por Volúvel Albion, a Inglaterra de uma realidade paralela em que os alienígenas começar a interagir com a humanidade ainda no século XVI. Sem medo de mostrar cabeças decepadas, tripas, sangue aos decalitros, cidades destruídas, terrorismo, genocídio e conflitos geopolíticos a granel, Warren Ellis aproveita a oportunidade para desenvolver um time de super-heróis muito mais crível que as tradicionais superequipes cheias de escrúpulos moralistas que povoam os quadrinhos há pelo menos seis décadas.

Como versão “Charles Bronson” da Liga da Justiça, o Authority tem suas leituras irônicas de Batman e Superman (Meia-Noite e Apolo, que inclusive formam um casal gay) e heróis que fogem ao politicamente correto, como o xamã holandês viciado em heroína (o Doutor) e a inglesa Jenny Sparks, nascida em 1º de janeiro de 1900 e que é O Espírito do Século XX. Apesar de vários arcos de “The Authority” já terem sido publicados no Brasil por outras editoras, os encadernados da Panini são uma ótima oportunidade para neófitos e veteranos lerem/relerem histórias em que o supergrupo precisa enfrentar uma invasão alienígena comandada por Deus, um Doutor renegado com problemas de autoestima sexual, a tentativa de governos mundiais de substituir os membros do Authority por paus-mandados e até mesmo o próprio planeta Terra, cansado das besteiras que fazemos por aqui.

Além de Warren Ellis e Bryan Hitch, a série também contou com roteiros e ilustrações de pesos-pesados como Grant Morrison, Frank Quitely e Mark Millar antes de descer a ladeira, mas qual revista de super-heróis não teve seus maus momentos? É torcer para a Panini publicar o melhor da série que, em sua época, foi capaz de rivalizar com a obra-prima de Warren Ellis, “Planetary”. Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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