NÓS E ELES
O discurso maniqueísta sustentado por diversas vertentes políticas ao curso dos últimos anos, exacerbado a partir do mensalão e potencializado pela Operação Lava Jato, pode ter consequências graves à medida em que atores de relevância política começam a ser chamados para dar explicações. O depoimento do ex-presidente Lula, na última quarta-feira, que acabou adiado por força de uma liminar, mesmo não acontecendo foi o gatilho para um enfrentamento nas ruas de São Paulo entre simpatizantes e opositores do dirigente petista. As consequências foram pessoas feridas.
Se ele tivesse comparecido, o cenário poderia ter sido mais grave, pois os grupos não arredariam pé do Fórum de Barra Funda enquanto durasse o depoimento. Seria tempo suficiente para os ânimos inflassem e o enfrentamento, como aliás, ocorreu, fosse até mais intensos. A questão a discutir é como será na próxima vez em que Lula e Dona Marisa forem, de novo, chamados para depor.
O grave desse enredo é que nenhum dos lados parece disposto a transigir, o que remete a discussão para a instância parlamentar. As lideranças políticas precisam atuar como bombeiros, deixando a Justiça fazer o seu trabalho, mas acalmando sua militância. Enquanto o fogo não baixar, os riscos de recrudescimento do quadro são cada vez mais claros, algo que não beneficia nenhum dos lados, salvo aqueles que apostam no enfrentamento e torcendo para recuos institucionais.