BALCÃO DE TROCAS


Por Tribuna

28/01/2016 às 07h00- Atualizada 28/01/2016 às 07h57

O sincericídio do ministro da Saúde, Marcelo Castro, está lhe custando críticas duras, inclusive de aliados, afinal, admitir que o país está perdendo a guerra para o Aedes aegypti foi visto como uma heresia. O ministro pode ter sido hiperbólico no discurso, mas não errou no diagnóstico, pois os números estão aí para mostrar que a situação é crítica. A discussão, porém, é mais embaixo. Ocupando o cargo há quatro meses, ele se notabilizou pelas frases, mas não pode ser o único culpado pela falta de políticas públicas de combate, especialmente, à dengue. As contaminações ocorrem há mais de dez anos, e pouco se fez para erradicá-las. Ao contrário, aos primeiros números positivos, as ações foram reduzidas.

A questão de Marcelo Castro é, no entanto, a prova material do jogo político que ocupa as instâncias de poder em todos os níveis. Os cargos são ocupados por ingerências partidárias, em troca de apoio institucional. Ministros, secretários estaduais e municipais, pelo país afora, são, em grande parte, nomeados por indicação das legendas que representam, sem se levarem em conta, em boa parte das vezes, as qualificações dos indicados. Não há preocupação com resultados, desde que o partido garanta as votações no Legislativo, o tempo na TV em tempos de campanha eleitoral e votos para ampliar a força do governo de plantão. O ministro da Saúde está no posto por indicação do PMDB, pois a pasta é uma das mais cobiçadas por força de seu orçamento. Sob o viés político, o resultado é um sistema desmobilizado, sem políticas públicas e refém de uma epidemia que só cresce pelo país afora.

Uma das mazelas do modelo de coalizão é a troca de favores entre Executivo e Legislativo, pois ela se processa em torno de interesses menores, mas sob a capa do discurso da governabilidade. Enquanto não houver mudanças, até mesmo dirigentes bem-intencionados serão capturados por esse jogo. Basta lembrar os primeiros dias de Dilma Rousseff, quando botou para fora ministros sob a suspeita de corrupção e de incompetência. Foi absorvida pela máquina e hoje é induzida, queira ou não, a aceitar os muitos “Marcelos Castro” espalhados pela Esplanada dos Ministérios. Vale o mesmo para prefeitos e governadores, também sujeitos a engolir sapos em nome de alianças.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.