CAMINHOS E ATALHOS
Na semana passada, o jornal “Folha de S. Paulo” teve acesso ao depoimento do engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila à Polícia Federal, no qual, na condição de projetista da barragem de Mariana, teria dito que alertou a Samarco, em 2014, sobre um “princípio de ruptura” no reservatório, classificando a situação como severa, carecendo de providências maiores do que as que a mineradora estava tomando. A Samarco, em nota, disse que todas as ocorrências surgiram durante manutenção e que elas foram tratadas.
Este episódio, por si só, já era emblemático, mas, no domingo, o “Fantástico”, da TV Globo, revelou que o Ministério Público de Minas verificou que a Samarco obteve autorização para construir a barragem do Fundão – que se rompeu em novembro – sem apresentar projeto executivo. O MP entende que o processo de licenciamento foi decisivo para a tragédia.
No mundo dos grandes negócios, há caminhos e atalhos, e, certamente, a empresa preferiu o segundo para levar adiante seus projetos. Respeitados os direitos de defesa da própria empresa e do responsável pela liberação, em 2007, no Governo Aécio Neves, a primeira leitura não foge da rotina dos acordos em que o povo passa ao largo enquanto os interesses dos grupos se apresentam.
A tragédia já ocorreu, e responsabilidades serão cobradas, mas é fundamental estabelecer ações que impeçam a repetição dos episódios. Minas tem várias barragens, e agora não há mais a certeza de que todas estão adequadamente seguras.