FARINHA POUCA
Num momento em que cobra sacrifício de todos os setores em função da crise econômica que assola o país, a presidente Dilma Rousseff sancionou sem vetos o Orçamento de 2016, aprovado pelo Congresso, que estabelece um repasse de R$ 819 milhões para os partidos, 163% maior do que a verba inicial proposta pelo próprio Governo. O argumento dos políticos está no fim do financiamento empresarial de campanha. Sem recursos, pressionaram dizendo que as eleições municipais estariam inviabilizadas.
Há controvérsia nesse argumento, mas os partidos, como sempre, adotam a velha máxima da “farinha pouca, meu pirão primeiro”, não se constrangendo em ver o arrocho dos demais segmentos em nome do ajuste econômico. Com verba tão expressiva, mais parece financiamento público de campanha, pois o dinheiro sai do caixa oficial e vai direto para os partidos, cabendo a esses os repasses para suas bases.
Câmara e Senado pressionaram o Governo num momento crítico para o próprio Congresso, uma vez que o ciclo de denúncias, agora, chegou à instância parlamentar. A operação “Lava jato” se aproxima de notáveis da República, inclusive da oposição, apontando para o uso desregulado do dinheiro público. Ainda assim, não houve constrangimento em exigir um aumento tão expressivo da verba partidária.
Os partidos, assim como Brasília, vivem num mundo à parte, ignorando solenemente os dramas da população, só se lembrando das ruas em épocas de campanha. Esse distanciamento se verbaliza nas pesquisas de opinião pública, quando a instância política fica no rodapé da preferência popular.