GERAÇÃO EM RISCO
A confissão de um adolescente, que aos 15 anos já tem no prontuário dois homicídios, choca pelos detalhes. Ele não conhecia a vítima e praticou o crime a mando de um traficante. Cumpria medida socioeducativa, mas conseguiu escapar no dia 9 de novembro, quando teria sido levado para uma audiência na Vara da Infância e da Juventude. Um dos comissários disse que ele – como não estava algemado – aproveitou a oportunidade e conseguiu se desvencilhar dos agentes. Havia mandado de busca e apreensão, mas, neste curto espaço, ele cometeu o segundo crime. Deve voltar ao Centro Socioeducativo, mas sua ação não só aumenta as estatísticas como aponta, de novo, para a banalização da vida.
Diz o folclore que Lampião, quando encarregado de alguma missão, pedia ao mandante que falasse mal da suposta vítima, e, só depois de “odiar o cabra”, ele ia para o campo executar o serviço. No caso desse menor e de tantos outros matadores, a ficção se transforma em realidade. “Quando ele caiu – referindo-se à vítima -, eu cheguei perto e dei mais um montão de tiro para acertar na cabeça dele, porque senão depois ele podia voltar e me pegar”, disse aos policiais que o interrogaram. No seu depoimento, ele replicou uma situação recorrente na cidade: um crime conduz ao outro, num cenário de vendeta sem fim. Ontem mesmo, a Polícia Civil apresentou os autores do crime da Marechal Deodoro, que teriam agido com motivação semelhante.
Quando a população começa a fazer justiça com as próprias mãos, a primeira lição que se tira é a falência do Estado como ente responsável pela segurança de seus cidadãos. Mas só isso seria desconsiderar o trabalho das polícias, hoje nas ruas prendendo autores de ilícitos, que, por força da legislação, passam apenas horas atrás das grades. Há que se considerar uma série de fatores, sobretudo na instância social, matriz da maioria desses problemas. Distantes de programas de inserção, cooptados pelo jogo de sedução do crime e envolvidos em questões de identidade, os jovens são as principais vítimas e algozes de um campo de luta que ocupa as metrópoles e compromete uma geração inteira, que não chega, sequer, aos 30 anos, em razão dos enfrentamentos registrados pelas estatísticas.