Chebli renuncia à Reitoria da UFJF
Atualizada às 21h02
Um ano, dois meses e doze dias. Este foi o período em que o professor Júlio Chebli permaneceu à frente da Reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Na manhã desta segunda-feira (16), o agora ex-reitor oficializou sua renúncia e abriu mão de mais dois anos e dez meses de mandato a que tinha direito, após ter sido eleito pela comunidade acadêmica da UFJF em junho do ano passado e empossado em setembro de 2014. Em carta encaminhada ao Conselho Superior (Consu) da instituição, Chebli alegou problemas de saúde, “os quais são inconciliáveis com as funções do Reitorado”, como justificativa para o afastamento. Ele destacou ainda que, durante o hiato em que esteve à frente da universidade, procurou honrar a função, baseando-se na ética e na preservação das conquistas históricas obtidas pela comunidade acadêmica. Com a saída de Chebli, o vice-reitor Marcos Chein assume interinamente o cargo. Na tarde desta terça, Chein irá realizar uma entrevista coletiva para falar da transição na instituição.
A passagem de Chein como titular do comando da Reitoria se estenderá por, no máximo, 60 dias. Em casos de vacância extemporânea da cadeira, este é o prazo definido pelo Decreto 1.916, de 23 de maio de 1996, que regulamenta o processo de escolha dos dirigentes de instituições federais de ensino superior. Assim, a expectativa é de que uma nova consulta à comunidade acadêmica seja feita nos próximos dois meses, para nortear o Consu acerca dos nomes que integrarão a lista tríplice a ser encaminhada à Presidência da República, responsável pela definição do novo reitor. Ainda segundo o decreto, não há previsão de um “mandato-tampão”, e o nome escolhido comandará a UFJF por quatro anos.
A regulamentação determina ainda que só podem ser indicados à função os ocupantes dos cargos de professor titular ou de professor associado 4 – últimos degraus da docência -, ou aqueles docentes que sejam portadores do título de doutor. Nestes casos, a única vedação está descrita no artigo 5º do decreto, que permite apenas uma “única recondução para o mesmo cargo”. Como Chebli estava em seu primeiro mandato, não há qualquer impedimento entre os docentes que atendam os pré-requisitos para postular a cadeira. Ou seja, pela lei, Chein estaria apto a participar das eleições, assim como os professores Marcus David e Paulo Villela, candidatos derrotados nas eleições do ano passado. Aliás, em um cenário mais que improvável, até mesmo Chebli poderia retornar à disputa.
Outro nome apto a participar do pleito é o do ex-reitor Henrique Duque, já que uma nova eleição para função não configuraria em uma “recondução”, como veda o decreto presidencial. Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, Duque lamentou a saída de seu sucessor e se disse surpreso. “Só mesmo um problema de saúde o faria tomar uma decisão como essa.” Principal cabo eleitoral de Chebli nas eleições passadas, Duque considerou prematuras quaisquer especulações acerca de que possa voltar a disputar a Reitoria, da mesma forma que tem evitado confirmar ou descartar uma possível candidatura à Prefeitura de Juiz de Fora.
Apesar da surpresa de momento, declarações recentes de Duque alimentaram boatos de uma possível renúncia de Chebli ainda em abril. Na ocasião, também à CBN Juiz de Fora, o ex-reitor afirmou que o ensejo de seu sucessor em deixar o cargo estaria em processo de “maturação”, em razão de dificuldades encontradas na gestão da instituição de ensino. À época, Chebli gozava de um período de férias, retomando o reitorado em maio. Em entrevista exclusiva à Tribuna, no dia 28 do mesmo mês, o então reitor afirmou que iria cumprir seu “compromisso com a comunidade acadêmica que o elegeu”, previsão que não se confirmou após o afastamento oficializado nesta segunda.
Ex-reitor enfrentou ano conturbado
A renúncia de Chebli ocorre em um momento conturbado da instituição, com a suspensão das aulas no Campus de Governador Valadares, devido à interrupção do abastecimento de água na cidade pela passagem da lama no Rio Doce, após o rompimento de duas barragens da empresa Samarco, em Mariana, há 12 dias. Além disso, há pressões por conta de questionamentos relacionados ao resultado do edital do apoio estudantil e o indeferimento de 70% dos pedidos submetidos.
Ao longo do ano, uma série de protestos marcaram o cotidiano da UFJF. Em maio, estudantes da universidade chegaram a ocupar o prédio da Reitoria por 16 dias, criticando a falta de transparência na universidade e a ausência de respostas sobre a manutenção do apoio e moradia estudantil. Recentemente, Chebli lidou com greves de 132 dias dos técnicos-administrativos e de dois meses dos professores. A administração de Chebli recebeu ainda duras críticas em relação à situação orçamentária e financeira da UFJF. Em julho, o pró-reitor de Planejamento Alexandre Zanini disse, em reunião do Consu, que a universidade teria recursos para se manter em apenas dois meses, o que causou a indignação dos grevistas.
Em busca de diálogo, em algumas situações, o agora ex-reitor e seus pró-reitores chegaram a receber grupos de professores, técnicos e alunos em algumas reuniões, demonstrando apoio aos movimentos das três categoria e colocando-se à disposição para a interlocução junto ao Ministério da Educação (MEC).