RECADO DAS RUAS
A instância política insiste em atuar divorciada do sentimento das ruas, só mantendo a relação em períodos eleitorais. Pelo menos essa é a leitura que fica ante as ações e inações do Legislativo, com sua pauta própria, a despeito das evidências de estar no caminho errado. O caso do deputado Eduardo Cunha é o mais emblemático, mas é bom lembrar o que ele próprio disse em sua defesa: mais de cem outros parlamentares estão respondendo a processos, numa observação voltada para indicar que, se houver de fato uma depuração, poucos serão os sobreviventes. Mesmo assim, não se pode colocar todos no mesmo saco, pois é vital considerar que há gente séria – e muita – no Congresso Nacional.
O que os políticos não percebem – ou, se percebem, ignoram – é que as mazelas que ocupam a rotina da casa acabam refletindo diretamente na relação com o eleitor. Uma pesquisa realizada pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas com brasileiros de oito estados revelou que a imprensa escrita é mais confiável do que o Poder Judiciário. Os dados foram reunidos para o Índice de Percepção do Cumprimento das Leis (IPCLBrasil), que entrevistou mais de três mil pessoas. Enquanto isso, os partidos políticos só têm a confiança de 5%.
Um cenário desse é indutor de reflexão, mas é esperar demais de uma instituição que descumpre regras e legisla de acordo com conveniências. A reforma política, última grande lição de casa, foi um arremedo, embora se esperasse mais ousadia dos parlamentares. O resultado foi uma legislação pífia, que manteve os mesmos vícios e acrescentou poucas virtudes. Essas ações, com o acréscimo de outras atitudes, levam o descrédito às ruas. Além desses dados, o estudo avaliou a opinião dos entrevistados sobre a importância de se obedecer a leis, policiais e juízes. A conclusão foi: 80% dos brasileiros acreditam que é mais fácil desobedecer às leis no Brasil. De forma semelhante, 56% afirmaram que existem poucas razões para seguir a lei brasileira. As ruas seguem a máxima da equiparação: se eles podem, nós também podemos.