DILEMA DE DILMA
O PMDB, como partido político, tem todo o direito de ter um programa econômico, mas o documento apresentado na última quinta-feira, para ser discutido no congresso da legenda em meados de setembro, soa como um contrassenso, não pelo seu conteúdo, mas pela oportunidade. Ocupando a cadeira número dois do Planalto e com um expressivo número de ministros, age como se fosse oposição, sobretudo pelo momento. Por que não discutiu com o próprio Governo a adoção de tais medidas? Força não falta, pois também tem uma considerável representação no Congresso. Vistas assim, as propostas soam como oportunistas, próprias de quem deseja desembarcar do projeto oficial na primeira oportunidade.
PT e PMDB estão na mesma trincheira pelas circunstâncias políticas, mas o discurso, agora explicitado nesse programa – e que teria sido abrandado por conta da repercussão -, cria mais uma fonte de embaraço para a presidente da República, já assoberbada por outros problemas na economia e na política. Os peemedebistas poderiam ter atuado de dentro para fora se tivessem, como dizem, interesse em salvar o país. No sentido inverso, fazem o jogo dos adversários, embora sejam poder.
Aliás, não é só o PMDB quem toma esse tipo de atitude. O próprio Partido dos Trabalhadores se defronta com dois discursos em torno do ajuste fiscal apresentado pelo ministro Joaquim Levy. Até bem pouco tempo, a ordem era detonar o projeto e ejetar o ministro. Agora, como foi dito no encontro de sexta-feira do comando nacional, com a presença do ex-presidente Lula, o ajuste é necessário para colocar a economia nos trilhos, embora as restrições ao ministro prevaleçam.
Num cenário deste, o desafio é saber como fica a presidente da República, que garante o seu ministro, mas tem nos aliados uma permanente fonte de instabilidade, pois estes agem como biruta de aeroporto, atuando de acordo com as circunstâncias.