Festas alemãs do Borboleta


Por LUIZ ANTONIO STEPHAN, COLABORADOR

28/08/2016 às 07h00

Os imigrantes alemães que vieram para o Brasil no século XIX não partiram de uma nação organizada. A Alemanha, como conhecemos hoje, não existia, e sim um instável emaranhado geopolítico formado por inúmeros estados soberanos, ducados e grão-ducados e cidades independentes que tinham em comum uma certa “identidade”, formada pelo conceito de “Kultur”, com todos os seus significados correlatos, que se calca em fatos intelectuais, artísticos e religiosos. Daí porque consideramos alemães esses imigrantes embora viessem de regiões onde hoje estão a Alemanha, Áustria, Polônia, Dinamarca, França, Holanda e outros.

Esses “estados”, que estavam enfraquecidos pelas guerras napoleônicas, permitiram que muitos de seus cidadãos partissem em busca de novos horizontes. Milhares vieram para o Brasil, e centenas desses chegaram a Santo Antonio do Paraibuna, que, seis anos depois, se tornou Juiz de Fora.

Esses alemães, se vieram de um lugar que não estava lá grandes coisas, chegaram aqui, onde também não era um “paraíso”, diferentemente das propagandas a que foram submetidos na origem pelo Governo brasileiro. Dizem que dom Pedro II queria mesmo era trazer mercenários e autorizou as colônias para camuflar a vinda desses militares e garantir militarmente a independência.

Os alemães se estabeleceram, construíram suas casas e rapidamente entenderam que a terra não era o que eles esperavam e não produziria os suprimentos com que eles estavam acostumados. Teriam que se adaptar: vamos fazer vinho, não tem uva, faça-se com laranja; não tem Steinhäger, tomamos cachaça; cerveja, tem que fazer com milho; pão, só tem farinha branca, nada de centeio, cevada, aveia, etc. Carne de porco: sim, é o que tem de bem próximo de lá, mas os nossos temperos não chegam aqui.

As cucas e tortas ganharam novos sabores, como banana, coco e goiabada. Alguns produtos faziam bem próximo do original: chouriço branco (Leberwurst) e queijo de porco (Schwartsmagem ou chuadema) feitos com miúdos de porco, chouriço preto (schwarzwusts) de sangue de porco e linguiças (wurst) de diversos tipos. Tinham também batatas e repolhos, muito utilizados por eles na origem.

Os descendentes dos alemães, sem negar absolutamente sua brasilidade, sentem orgulho de sua origem, mas, durante muitos anos, a “cultura alemã” foi inibida por situações políticas: durante a primeira e a segunda grandes guerras (quando Brasil e Alemanha ficaram em lados opostos) e no governo nacionalista de Getúlio Vargas (quando foram proibidas as expressões culturais estrangeiras).

Em 1968, os descendentes germânicos realizaram a primeira “Festa Alemã do Borboleta” e a repetiram em 1972 e 1976 num formato de festival de chope, mas foi a partir de 1990, quando se criou esse modelo atual, que esse processo de resgate cultural detonou. Tudo começou com a necessidade de “terminar o telhado” da Igreja de São Vicente de Paula, que foi viável pela disponibilidade de produtos “Stephan” para atender o cardápio da festa: as linguiças, frios, defumados, salsichão branco (Weisswurst), carré defumado (Kasseler) e joelho de porco (eisbein).

O expressivo interesse e o envolvimento da comunidade do Borboleta também foram determinantes, prepararam os artesanatos, tortas, pães, picles, chucrute, saladas de batatas e outras delícias para o evento. Criaram a Associação Cultural e Recreativa Brasil Alemanha, que promove a “Festa Alemã do Borboleta”, desde 1995 até os dias de hoje e nos encanta com seus grupos de dança típica.

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