Deus, o homem e a criação
Por Equipe Igreja em Marcha. Grupo de Leigos Católicos
Em mais uma atitude bastante controversa, o governo que está posto no Brasil decidiu, em agosto, decretar a extinção da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca), uma área de 46.450 quilômetros quadrados, do tamanho do Estado do Espírito Santo, onde estão situadas nove áreas de conservação ambiental e reservas indígenas, antes legalmente reservada a pesquisas do Estado e que fica aberta à atividade de mineradoras privadas e estrangeiras.
Desde o anúncio do decreto, artistas e vários setores da sociedade civil se mobilizaram em redes sociais e fizeram abaixo-assinado, pedindo sua revogação. Líderes das principais confederações de bispos do Brasil e de outros oito países amazônicos classificaram a decisão de “antidemocrática” e “uma ameaça política para o Brasil inteiro” numa nota de repúdio à decisão.
Nada mais coerente, visto que, em sintonia com a encíclica de Papa Francisco, Laudato Sí, a CNBB tem convidado os cristãos a educarem as consciências e a participarem da construção de atitudes, públicas e particulares, que gerem vida para todos e preservem o ambiente. Na Campanha Ecumênica da Fraternidade de 2016, cujo tema foi “Casa comum, nossa responsabilidade”, refletimos sobre o meio ambiente como moradia onde todos habitam e, portanto, pelo qual todos são responsáveis. O lema indicava que isso é também um direito. “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am. 5.24).
A Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, dá ênfase à diversidade dos nossos biomas e ao respeito que devemos ter com eles diante da crise ecológica que vivemos. E, embora tenha tido ampla adesão de famílias, comunidades, escolas e movimentos sociais, parece não ter sensibilizado as lideranças políticas… Seu lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15) foi tomado como (di)lema por setores agrícolas, que, numa escala industrial e quimicamente transformada de produção, não acreditam que as duas proposições são possíveis. Soma-se a isso a pressão das mineradoras, que já causaram o maior “desastre ambiental” no país, no recente episódio de Mariana…
Enquanto a Presidência afirma que a Renca “não é um paraíso”, por se tratar “de uma singeleza ímpar”, a nota assinada pelos bispos cita falas recentes do Papa Francisco sobre a Amazônia, que criticam “uma economia de exclusão e desigualdade” e “o drama de uma política focalizada nos resultados imediatos”, que “torna necessário produzir crescimento a curto prazo”.
“Convocamos as senhoras e os senhores parlamentares a defenderem a Amazônia, impedindo que mais mineradoras destruam um dos nossos maiores patrimônios naturais. Não nos resignemos à degradação humana e ambiental,” conclama a nota.