DONOS DO PEDAĆO
O impasse em torno do projeto da terceirizaĆ§Ć£o, jĆ” aprovado pela CĆ¢mara Federal, mas sob o risco de ser embargado no Senado, mostra a queda de braƧo entre o deputado Eduardo Cunha, presidente da CĆ¢mara, e o senador Renan Calheiros, que preside o Senado. Os dois sĆ£o filiados ao PMDB, partido que se tornou o centro do poder no Legislativo por conta nĆ£o apenas dos cargos que ocupam mas das prerrogativas dadas ao vice-presidente Michel Temer, presidente de honra da legenda.
O resultado desse jogo Ć© imprevisĆvel, mas revela um quadro polĆtico em que hĆ” donos do pedaƧo. Renan, que no inĆcio da atual legislatura era visto como um aliado do Planalto, mudou de lado. Eduardo Cunha, eleito com clara restriĆ§Ć£o do Governo, caminha para a base. Em comum, ambos gerenciam o Congresso de acordo com suas conveniĆŖncias, numa clara demonstraĆ§Ć£o de fragilidade dos demais atores polĆticos.
Enquadrados na operaĆ§Ć£o “Lava jato”, Cunha e Renan ignoram solenemente as investigaƧƵes, tratando o trabalho do MinistĆ©rio PĆŗblico e da PolĆcia Federal como algo distante, enquanto os outros envolvidos andam atrĆ”s de acordos para se livrarem de eventuais puniƧƵes. AtĆ© quando ficarĆ£o alheios Ć© improvĆ”vel, mas as investigaƧƵes nĆ£o podem ficar comprometidas pelo peso polĆtico de ambos. Com amplo direito de defesa, devem, como os demais, prestar esclarecimentos dos motivos que os levaram ao indiciamento. Ć isso que as ruas esperam.