A história do Brasil em evidência
‘Ainda estou aqui’ escancara para os milhões de espectadores que assistiram à obra nos cinemas mundo afora, de forma contida, mas ainda sim poderosa, uma história cujos horrores não podem ser esquecidos
Após arrebatar – merecidamente, diga-se -, o prêmio como melhor atriz de drama no Globo de Ouro 2025, Fernanda Torres voltou aos holofotes da imprensa brasileira e mundial nesta quinta-feira (23), quando os indicados ao Oscar 2025 foram revelados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A atriz e o longa “Ainda estou aqui”, do diretor Walter Salles, conquistaram indicações de melhor atriz, melhor filme (indicação histórica) e melhor filme internacional.
Muito aguardada pelos brasileiros, principalmente, a notícia repercutiu e foi celebrada nas redes sociais com caráter ufanista. A indicação de Fernanda encerra o jejum de 26 anos sem uma brasileira no maior prêmio do cinema mundial. A primeira e única foi a sua mãe, Fernanda Montenegro, pelo filme Central do Brasil, também de Walter Salles. Embora esse hiato intensifique o orgulho e a festa dos brasileiros, há, no caso específico desta obra, um elemento que não pode ser desconsiderado ou esquecido: a história do Brasil.
A adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva é um retrato emocionante do drama e do luto vivenciado por muitas famílias durante a ditadura militar no país, personificados na luta de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda. O filme escancara para os milhões de espectadores que assistiram à obra nos cinemas mundo afora, de forma contida, mas ainda sim poderosa, uma história cujos horrores não podem ser esquecidos e precisam ser conhecidos pelas novas gerações.
A indicação de Fernanda Torres e do longa, portanto, não carrega apenas o peso do talento individual. Não é apenas uma vitória do cinema brasileiro. É o orgulho e a satisfação de vermos nossa história sendo mostrada e reconhecida mundialmente. É ter a certeza que a arte e a cultura são ferramentas de resistência e que, ainda que tentem sucateá-las, resistem. É a vitória de saber que em um período em que muitos flertam com o fascismo, milhões de pessoas são sensíveis à arte, ao seu poder transformador e rejeitam qualquer ideia que demonstre o nefasto saudosismo “daquela época”.
É a vitória dos “sensíveis”, como disse Selton Mello, ator que interpreta Rubens Paiva no longa (marido de Eunice e morto pela ditadura militar), em entrevista à Globonews nesta quinta, após o anúncio.
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