Moraes tem que dar mais explicações
Ministro nega denúncias da Folha, mas tem que ir além, para provar que não se afastou da necessária imparcialidade de um juiz
Dentro do devido processo legal, todos têm direito a ampla defesa, e o contraditório é peça fundamental para se chegar a algum veredicto, mas o ministro Alexandre Moraes deve apresentar algo mais consistente do que a simples nota que emitiu na noite de terça-feira, quando contestou reportagem da Folha de São Paulo, que o denunciou de ação deliberada contra determinados atores políticos, especialmente do campo bolsonarista, para abrir investigações sobre fake News.
De acordo com o jornal, “conversas entre o gabinete de Alexandre Moraes no Supremo Tribunal Federal e o órgão de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral I(TSE), à época sob seu comando, indicam que em vários casos os alvos de investigações eram escolhidos pelo ministro ou por seu juiz assessor”. A reportagem acrescenta que os diálogos mostram também que os relatórios eram ajustados quando não ficavam a contento do gabinete do STF e, em alguns episódios, feitos sob encomenda para embasar uma ação pré-determinada, como multa ou bloqueio de contas e redes sociais.
Em nota, Moraes afirma que todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados. “Diversas determinações, requisições e solicitações foram feitas a inúmeros órgãos, inclusive ao Tribunal Superior Eleitoral, que, no exercício do poder de polícia, tem competência para a realização de relatórios”. Durante a sessão do STF, na tarde desta quarta-feira, ele voltou a se manifestar: Ele disse que as informações solicitadas eram objetivas e públicas. “Seria esquizofrênico eu, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral [à época], me auto oficiar”, afirmou.
Como era esperado, alguns ministros, como Roberto Barroso e Flávio Dino, vieram em socorro do colega, enquanto a Ordem dos Advogados do Brasil anunciou que irá pedir acesso aos autos que tramitam no STF, uma vez que, no seu entendimento, a imparcialidade da Justiça é um dos mais importantes pilares da democracia.
Também sem surpresa, senadores da oposição já antecipam um pedido de impeachment do ministro, numa repetição – agora do outro lado – do que ocorreu com o ex-juiz Sérgio Moro, também acusado de atuar além dos limites da lei.
Tirar conclusões em cima dos acontecimentos é precipitado, mas é necessário ir fundo nas investigações para se chegar a uma conclusão que se aproxime ao máximo da verdade. O ministro tem o direito de ampla defesa, mas outros setores, como a OAB, destacam que todos os fatos devem ser apurados Moraes foi um juiz duro e atuou em áreas críticas e, até mesmo para garantir que não cruzou a linha, é preciso investigar, pois há o risco de decisões importantes por ele tomadas serem anuladas, como ocorreu com as decisões da Lava Jato.
A instância política já se movimenta e, no momento em que o país entra na campanha eleitoral para prefeituras e câmaras municipais, os eventos de Brasília podem mudar o foco das discussões nas bases ante um fato que, certamente, irá ocupar os espaços das redes sociais nas quais, aliás, já se manifestam desde a publicação inicial feita pela Folha.